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Agroecologia: a solução sustentável para um sistema alimentar em crise
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A agroecologia é a solução para produzir alimentos de forma justa e sustentável, sem destruir a natureza nem causar sofrimento animal.
O atual sistema de produção de alimentos promove o desmatamento, a concentração de terras, a perda de biodiversidade e o sofrimento animal, além de piorar as mudanças climáticas, devido ao enorme volume de emissão de gases do efeito estufa do setor.
Precisamos deixar para trás essa forma de produzir e consumir carne, abandonar a pecuária industrial, e seguir adiante rumo a meios mais sustentáveis e justos de produção de comida.
Mas como produzir alimentos para todas as pessoas, levando em consideração as necessidades da natureza, a interação com o meio ambiente e o bem-estar animal? É aí que entra a agroecologia!
O que é agroecologia?
A agroecologia é um modelo de produção de alimentos que respeita os processos da natureza, apostando na diversidade e interação de culturas, e apoiada na produção familiar e camponesa.
Diferente do agronegócio, que vê no solo uma linha de produção industrial e tem como objetivo maximizar lucros, a agroecologia tem princípios valiosos, como o incentivo à biodiversidade e a soberania alimentar. Ou seja, o direito que os povos têm de decidir sobre o que irão plantar, criar e comercializar, levando em consideração hábitos e cultura locais.
Esse modelo respeita os processos da natureza preservando as fontes de água, além de proteger e nutrir o solo, onde os animais são criados soltos, atendendo aos critérios de bem-estar, e com baixa emissão de gases do efeito estufa, já que não é baseado no desmatamento.
Quais são os princípios básicos da agroecologia?
Alguns dos princípios básicos da agroecologia são a valorização do conhecimento popular e das culturas tradicionais de cada região, como um tipo de feijão ou fruta típica de uma cultura alimentar específica, a diversidade de alimentos e a interação entre as espécies, o respeito aos limites ambientais, como a saúde do solo e das fontes de água, e da biodiversidade.
No sistema agroecológico, o produtor trabalha com a natureza, e não contra ela. O sistema conta com a ajuda de polinizadores e explora a interação entre diferentes plantas para evitar pragas, o que evita o uso de agrotóxicos, por exemplo. Além disso, a agroecologia é baseada na justiça social e alimentar, ou seja, o direito de ter comida e dignidade vem acima do lucro individual.
Ilustrações: Dorottya Poór Agroecology Europe
Quais as vantagens da agroecologia para a saúde e meio ambiente?
O modelo agroecológico tem muitas vantagens para nós e para o meio ambiente, como a preservação do solo, da biodiversidade e a garantia de renda para as comunidades. Conheça as principais vantagens.
- Sustentabilidade ambiental: a agroecologia respeita os processos naturais e os limites dos ecossistemas, jogando junto com a natureza, ao invés de modificá-la para produzir monoculturas.
- Segurança alimentar: na agroecologia, a produção prioriza os alimentos tradicionalmente consumidos pela população, para garantir comida no prato, com variedade e o ano todo;
- Saúde da população: a agroecologia promove uma alimentação mais rica e variada, e sem veneno! Além disso, respeita o solo e as fontes de água;
- Fortalecimento da agricultura familiar: a agroecologia resgata os conhecimentos tradicionais e é desempenhada principalmente por agricultores familiares, promovendo renda justa e alimento para o povo do campo e da cidade;
- Conservação da biodiversidade: como a agroecologia não promove o desmatamento de grandes áreas e o envenenamento da água e do solo, a biodiversidade se mantém em equilíbrio;
- Justiça social: sem depender de sementes geneticamente modificadas, atravessadores e das grandes indústrias, o produtor é melhor remunerado e garante comida na mesa. Todo mundo planta e todo mundo come.
Diferença entre agroecologia e agricultura orgânica
Tanto a agroecologia, como a agricultura orgânica são sistemas agrícolas de base ecológica, ou seja, modelos de produção que buscam produzir alimentos com menos impactos ambientais, respeitando a conservação dos recursos naturais e respeito à biodiversidade. Mas as duas formas de agricultura tem algumas diferenças.
Tanto a agricultura orgânica como a agroecologia são modelos melhores e mais sustentáveis de produção de alimentos que a agropecuária industrial. Porém a agroecologia se destaca como uma resposta mais adequada à crise climática, uma vez que não depende de insumos externos e promove uma maior resiliência do solo.
- Princípios: enquanto a agroecologia se apoia no princípio da diversidade de espécies e no respeito às dinâmicas da natureza, a principal característica da agricultura orgânica é o veto ao uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos;
- Processo de produção: na agroecologia, a produção é comunitária e familiar, com valorização do conhecimento ancestral. Já a agricultura orgânica, pode ser desenvolvida por pequenos ou grandes agricultores, contanto que obedecidas as regulamentações existentes e que haja certificação;
- Responsabilidade socioambiental: um dos pilares da agroecologia é a justiça social, que se traduz no respeito ao trabalhador do campo, suas necessidades e cultura. Enquanto na agricultura orgânica, o principal compromisso é com a eliminação de insumos químicos que prejudicam o meio ambiente e a saúde;
- Autossuficiência: na agroecologia, é importante que os produtores rurais consigam garantir os insumos necessários para a produção localmente, com apoio da comunidade. Já na agricultura orgânica, é possível adquirir insumos de diferentes empresas, contanto que sejam certificados.
Quais são os desafios da agroecologia?
Apesar de ser um modelo viável de produção de alimentos, ainda existem muitos desafios para a agroecologia no Brasil, e especialmente para a Criação Animal de base Agroecológica. Da alimentação à saúde, da assistência técnica ao crédito, da legislação à comercialização, existe uma estrutura sólida que torna os produtores familiares reféns do atual sistema de produção. Conheça alguns dos desafios enfrentados pela agroecologia:
- Pesquisa e assistência técnica: poucas instituições de ensino superior tem matérias voltadas à agroecologia, e esse número é ainda menor quando se trata da criação animal. Há também pouco investimento em pesquisa, o que dificulta o desenvolvimento e oferta de assistência técnica especializada;
- Alimentação animal: a pecuária industrial usa commodities, como soja e milho, repletas de agrotóxicos na alimentação animal e esses insumos são fáceis de achar. Mas os alimentos para a criação de base agroecológica são mais raros e caros;
- Beneficiamento e distribuição: atualmente, a maioria dos agricultores agroecológicos só consegue vender sua produção em mercados informais. Apoio público para certificação, beneficiamento e distribuição poderiam ajudar a resolver estes problemas e fomentar a produção agroecológica;
- Crédito: hoje em dia a maior parte dos investimentos e linhas de crédito vão para a agropecuária industrial. Com mais crédito disponível, produtores agroecológicos poderiam investir em sua produção e no beneficiamento de seus produtos, agregando mais valor à produção.
Como realizar a transição agroecológica?
Para realizar uma transição justa para o modelo agroecológico é preciso adotar gradativamente práticas que respeitem os ciclos da natureza, reduzindo a dependência de insumos químicos, e promovendo o equilíbrio entre solo, plantas e animais. Alguns passos para alcançar a transição são:
- Cuidado com o solo: um solo saudável é a base da agroecologia. Dessa forma, o primeiro passo é avaliar a situação do local e qualidade do solo, e realizar a adubação verde e compostagem para repor nutrientes de forma natural, além do plantio de espécies variadas, para melhorar a biodiversidade e a retenção de água;
- Alimentação dos animais: os animais devem ser alimentados de forma sustentável, reduzindo a dependência de rações comerciais, produzidas à base de produtos como soja e milho contaminados por agrotóxicos. É preciso privilegiar o uso de pastagem nativa e produtos da agrobiodiversidade;
- Bem-estar animal: o bem-estar animal é uma premissa da criação agroecológica,. Não só pelos princípios éticos, mas também pelo entendimento de que animais respeitados e bem cuidados são mais saudáveis e menos suscetíveis a doenças, o que reduz a necessidade de medicamentos. Para isso, os animais de criação devem viver livre de fome e sede, de desconforto, livres de dor e machucados, e ter liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie;
- Redução de químicos e antibióticos: o uso de produtos químicos deve ser evitado, para não prejudicar o ambiente e a saúde dos animais e dos humanos. Adubação orgânica e biofertilizantes podem substituir fertilizantes sintéticos, as pragas podem ser controladas com medidas biológicas e a promoção do bem-estar animal elimina a dependência do uso preventivo de antibióticos.
Para que tudo isso aconteça, é fundamental que existam políticas públicas que garantam o direito à terra, à financiamento e capacitação para impulsionar o crescimento da agroecologia. É possível mudar!
Como os consumidores podem contribuir para o avanço da agricultura agroecológica?
A revolução agroecológica não virá sem o apoio e a luta da sociedade, e você pode fazer parte desse movimento. Veja algumas formas de apoiar essa mudança.
Conscientização sobre os benefícios - A agroecologia preserva os recursos naturais, promove renda digna e fornece uma alimentação mais saudável e sustentável para sua família, e agora você sabe! Ajude a conscientizar outras pessoas sobre os benefícios desse modelo.
- Preferência por produtos agroecológicos: mesmo em grandes cidades, é possível encontrar lugares e feiras que vendem produtos da agroecologia, dê preferência a eles sempre que possível;
- Valorização da agricultura familiar: nada melhor do que comprar direto de quem produz. Valorize os produtos plantados no seu município e o trabalho de agricultores familiares. Você tem acesso a comida mais fresca e variada e ajuda a girar a economia local;
- Participação em feiras locais: muitos agricultores familiares vendem suas produções em feiras. Procure por feiras no seu município e compre direto de quem planta. Sem atravessadores, você consegue preços melhores e produtos mais saudáveis, além de incentivar a agricultura familiar;
- Compartilhamento de informações: quer melhorar a alimentação da sua família e amigos? Achou uma feira legal na sua cidade? Compartilhe informações! Às vezes, para iniciar uma mudança, basta ter acesso à informação.
Conclusão
A agroecologia é um modelo do sistema alimentar que harmoniza a produção de alimentos com a preservação ambiental e o bem-estar animal e social. Hoje, já existem evidências suficientes apontando a agroecologia como um caminho economicamente viável e absolutamente necessário para se enfrentar a emergência climática e as crises socioambientais que o Brasil e o mundo têm se deparado.
Mais do que nunca, precisamos valorizar a sabedoria ancestral de agricultores tradicionais, ribeirinhos, quilombolas e povos indígenas, que há anos mantêm sua cultura alimentar em harmonia com o meio ambiente e a biodiversidade.
A agroecologia promove a justiça social, proporcionando independência, renda justa e segurança alimentar às comunidades rurais de todo o Brasil, e a manutenção do trabalhador do campo no campo.
Precisamos migrar para sistemas alimentares saudáveis, justos e sustentáveis, com foco na agroecologia. Essa transição requer políticas públicas que direcionem recursos para iniciativas sustentáveis, priorizando a saúde e o bem-estar de todos os envolvidos.
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