Movimento é referência em métodos de produção de alimentos que contribuem para a prevenção de futuras tragédias como as do Rio Grande do Sul.
Nesse momento de tristeza, no qual são contabilizados centenas de mortos e milhares de desabrigados, fora a insegurança sobre quanto tempo será necessário para a recuperação do Rio Grande do Sul, a reflexão sobre os malefícios da agropecuária industrial torna-se indispensável. É inegável que esse modelo – que impõe sofrimento aos animais criados na pecuária industrial e dizima o habitat da fauna silvestre – é o maior vilão das mudanças climáticas e, por isso, precisa ser limitado e transformado para que tragédias como essa sejam evitadas.
No Brasil, a principal fonte das emissões de gases do efeito estufa são os sistemas alimentares, chegando a 74% das emissões. A pecuária industrial é o setor que mais impacta nesse resultado, principalmente por conta do desmatamento e das queimadas, que são consequências diretas da expansão predatória do agronegócio. Os danos dessa atividade ao clima incluem ainda as emissões dos rebanhos.
Quando falamos em modelo de sistemas alimentares, é essencial ter em mente que a JBS está para o agronegócio assim como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está para a agricultura familiar e para a agroecologia. Porém, enquanto a JBS recebe milhões em incentivos do BNDES, o MST – que está com cinco assentamentos submersos e 420 famílias desabrigadas – precisa pedir doações da sociedade para se recuperar da tragédia climática no Rio Grande do Sul. Dinheiro esse para recuperar a perda da estrutura das casas, móveis, máquinas e caminhões e também de produção de arroz e hortas agroecológicas, que haviam sido replantadas após a enchente do final do ano passado.
A Cozinha solidária do Assentamento Filho de Sepé do MST prepara refeições (marmitas) para refugiados climáticos atingidos pelas enchetes no Rio Grande do Sul. Na foto, painel com a contabilização das marmitas produzidas. Viamão, Águas Claras / RS. Foto: Cristiano Sant´Anna.
Investimentos de dinheiro público no agronegócio comprovam que o Brasil ainda escolhe investir na agricultura, que tem mais compromissos com o lucro e com o mercado, do que com o bem-estar das pessoas e dos animais. É essa agricultura de escala industrial que recebe a maior parte do orçamento nacional destinado ao setor. Multinacionais do agronegócio insistem em uma agricultura ultrapassada, predatória e tóxica, que causa desigualdades, doenças, sofrimento animal e destruição ambiental.
Insistir no discurso que sem o agronegócio não seria possível alimentar as pessoas é um equívoco. A fome, realidade na vida de milhares de brasileiros, não se deve à quantidade de alimentos produzidos. A verdade é que a fome, atualmente, é uma questão política e não apenas técnica. O alimento existe, mas quem passa fome não o acessa. O modelo de produção agrícola convencional provoca desperdício e não facilita o acesso a quem precisa de comida no prato.
Carregamento de marmitas produzidas pela Cozinha solidária do Assentamento Filho de Sepé do MST. Viamão, Águas Claras / RS. Foto: Cristiano Sant´Anna.
A solução para enfrentar a atual crise ambiental, climática e alimentar é ancestral, a agroecologia. Esse modelo respeita os processos da natureza e não provoca danos à água, ao solo e aos animais. Diferente do agronegócio, que vê no solo uma linha de produção industrial, a agroecologia tem princípios valiosos, como o incentivo à biodiversidade e a soberania alimentar, ou seja, o direito que os povos têm de decidir sobre o que irão plantar e comercializar, levando em consideração hábitos e cultura locais.
Veja como ajudar a campanha do MST
Esse modelo tem potencial para ampliar a produção. Para isso, basta haver políticas públicas, mais incentivos e valorização. Praticar a criação agroecológica de animais em pequenas propriedades é uma alternativa eficiente para garantir mais saúde e bem-estar para os rebanhos. Nesses espaços e sob essa prática, os animais não consomem apenas ração industrializada e nem ficam confinados em espaços minúsculos e limitantes, o que diminui a necessidade do uso de antibióticos e carrapaticidas.
Helicóptero abastecido de marmitas produzidas pelo Cozinha solidária do Assentamento Filho de Sepé do MST. Viamão, Águas Claras / RS. Foto: Cristiano Sant´Anna
O MST – um dos maiores movimentos sociais do mundo, com uma história de mais de quatro décadas e que inclui cerca de 450 mil famílias que criaram comunidades, assentamentos produtivos, pequenos negócios de processamento de alimentos e feiras de agricultores em todo o Brasil – já adere a essa prática, apesar da falta de incentivo e de investimento público. A produção de alimentos do movimento regenera solos degradados, trata bem a natureza e os animais e gera renda e saúde para as pessoas que trabalham no campo e consomem nas cidades. O MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, sendo que a renda gerada não alimenta apenas uma ou duas, mas sim cerca de 400 famílias.
Além de tudo, o MST é um movimento solidário. Durante a pandemia da covid-19 no brasil, de março de 2020 a novembro de 2021, vimos agricultores familiares doando parte de sua produção, mas não vimos o agronegócio investindo seus bilhões em medidas de proteção para a população. Vimos agricultores familiares perdendo seus produtos por conta da distribuição falha e com o fechamento de alguns canais com a pandemia, mas o agronegócio seguiu de vento em popa e aumentou seu lucro a partir de mais incentivos concedidos e aumentos das exportações, pois continuou produzindo e vendendo para fora com toda a estrutura necessária e garantida pelo governo.
Neste momento estamos assistindo algo muito parecido no RS. Enquanto a JBS adota a medida ordinária de adiantar o 13º salários aos seus funcionários, o MST encampa a Campanha de Solidariedade Sem Terra ao Rio Grande do Sul e monta uma cozinha para produzir e distribuir comida, além de abrigar pessoas de assentamentos totalmente devastados, organizar o recebimento de doações em diferentes pontos de coleta onde está presente (RS, SP e BH), e distribuir para as famílias que estão desabrigadas e em vulnerabilidade.
Por isso, se você ainda não fez a sua doação ou está pensando em um bom canal para isso, essa é uma excelente e coerente opção. Ajude a campanha do MST!
Se você já fez a sua doação, compartilhe com amigos e familiares para que essa ação de solidariedade chegue a mais pessoas.
DADOS DA CONTA
PIX: 09352141000148
Banco: 350
Agência: 3001
Conta: 30253-8
CNPJ: 09.352.141/0001-48
Nome: Instituto Brasileiro de Solidariedade
*Foto do destaque: Cristiano Sant´Anna