Entenda o que é defaunação e suas consequências para a biodiversidade
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A defaunação é uma das principais ameaças à biodiversidade global, pois implica a perda de espécies essenciais para os ecossistemas.
Imagine um mundo onde o rugido dos leões é substituído pelo silêncio, onde as águias já não cruzam os céus, e onde a diversidade da Amazônia é reduzida a um punhado de espécies resistentes. A defaunação não é um cenário distante ou fictício, mas uma realidade que avança rapidamente devido às atividades humanas.
Desde abelhas que polinizam nossas colheitas até morcegos que controlam populações de insetos, cada espécie desempenha um papel essencial na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas. Quando esses animais desaparecem, as repercussões são vastas e profundas.
Em tempos de crises ambientais, é crucial entender os impactos da defaunação e explorar as soluções proporcionadas pela refaunação para preservar a biodiversidade e garantir um futuro sustentável.
O que é defaunação?
Defaunação é a perda de espécies animais em seus habitats naturais de forma acelerada, como consequência de ações humanas. A redução impacta a quantidade, a diversidade e a própria existência dos ecossistemas, que têm seus ciclos alterados com a perda de espécies-chave.
Esse é um problema ambiental tão ou mais preocupante que o desmatamento, já que não pode ser visualizado por meio de imagens de satélite, dificultando o seu acompanhamento por pesquisadores e cientistas.
Sabemos que alguns eventos climáticos e geológicos provocaram a perda de espécies ao longo dos séculos. A diferença para a defaunação é que ela é causada principalmente pelas atividades humanas rápidas e persistentes.
O impacto da defaunação não se limita à perda de uma ou outra espécie, ela afeta todo o ecossistema como um dominó. O desaparecimento de várias espécies, fundamentais para a dispersão de sementes e a regeneração das florestas, pode levar ao desequilíbrio dos ecossistemas.
Principais causas da defaunação
Conheça as principais causas da defaunação e seus impactos ambientais que enfraquecem ainda mais a resiliência das espécies e dos habitats.
Perda de habitat
A agropecuária industrial intensiva está diretamente ligada ao desmatamento e a perda de habitat. De acordo com uma publicação do MapBiomas, em 2023, das áreas de vegetação natural perdidas no Brasil, pelo menos 90% foram convertidas para uso agropecuária.
Desmatamento esse que vai além da destruição de florestas nativas, ele é potencializado com a queima do solo, perda de nutrientes e flora, desertificação e, claro, a fuga ou morte dos animais silvestres que ali vivem.
Assim, toda a biodiversidade é removida para dar lugar à monocultura, principalmente plantio de soja e criação de gado. Para os animais silvestres que sobrevivem, restam áreas desertas sem possibilidade de abrigo ou fonte de alimento e água.
A exploração da agropecuária não para por aí, além de todo o rastro de desmatamento e degradação ambiental, a indústria da carne que é instalada também é causa dor e sofrimento para os animais de fazenda. Esses animais vivem confinados em pequenos espaços durante toda a vida e não têm uma vida digna.
Comércio ilegal de animais
Só no Brasil, estima-se que 38 milhões de animais silvestres são traficados por ano, sendo que as aves representam 80% dessa atividade ilegal e cruel. Os animais capturados, em sua maioria, são mantidos em locais apertados, sem acesso à luz natural e à alimentação adequada.
A venda desses animais também impacta na defaunação e no desequilíbrio ambiental. O tráfico de animais silvestres é um catalizador para a perda de biodiversidade, já que, quanto mais raro, mais valioso o animal silvestre. Ou seja, espécies que já lutam contra a extinção devido aos impactos ambientais estão ainda mais ameaçadas.
Sem contar que o contato de espécies silvestres, que deveriam permanecer em seus habitats naturais, com novos animais e humanos pode transmitir uma série de doenças zoonóticas e dar origem a novas epidemias/pandemias.
Aumento da extensão das cidades
Segundo dados do último Censo, o Brasil tem uma taxa de urbanização de cerca de 85%, com uma população total de 203 milhões. Na década de 1960, a taxa era de 45% para 70 milhões de habitantes.
Com um aumento tão expressivo, o país precisou de mais infraestrutura e espaço para moradias. A pressão territorial também reduziu os habitats naturais e o número de animais silvestres. Alguns precisaram se adaptar a novos ambientes ou fugir, sendo que muitos acabaram sendo extintos também neste processo.
Com menos espaços e fontes de alimento, esses animais enfrentam a competição entre espécies, ficam sujeitos a acidentes fatais e se tornam espécies invasoras em seus novos habitats, quebrando o ciclo natural existente.
Mudanças climáticas
As mudanças climáticas estão diretamente ligadas à defaunação, criando uma relação cíclica que agrava os impactos ambientais.
Algumas das espécies perdidas desempenham papéis cruciais na polinização e na dispersão de sementes. Com a diminuição dessas espécies, temos menos árvores, o que reduz a captura de CO2 da atmosfera e, por sua vez, intensifica os efeitos das mudanças climáticas.
Florestas enfraquecidas se tornam mais suscetíveis à degradação, agravando ainda mais a defaunação e reduzindo os serviços ambientais e climáticos essenciais. Portanto, a proteção da fauna e de seus habitats deve ser vista como uma estratégia vital para a preservação do clima.
Consequências da defaunação
Impacto nos ecossistemas
A defaunação provoca um profundo desequilíbrio ecológico, pois cada espécie desempenha um papel único e insubstituível no ecossistema. A perda de espécies-chave pode desestabilizar as interações entre plantas e animais, como a polinização e a dispersão de sementes.
Com menos espécies para preencher nichos ecológicos, a capacidade de um ecossistema de se adaptar e se recuperar de eventos extremos é significativamente diminuída. Isso pode levar a uma maior vulnerabilidade a incêndios florestais, secas e inundações, exacerbando ainda mais a degradação ambiental.
Além disso, a defaunação pode interromper os ciclos de nutrientes, como a decomposição de matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes do solo. Animais como os decompositores e os herbívoros desempenham papéis cruciais na manutenção da fertilidade do solo e na saúde das plantas.
Efeitos na cadeia alimentar
Outro impacto da defaunação é desestabilizar as cadeias alimentares ao eliminar predadores, presas e competidores. A perda de predadores de topo, por exemplo, pode levar a um aumento descontrolado nas populações de herbívoros, que por sua vez podem sobreexplorar os recursos vegetais.
Esse desencadeamento pode resultar em degradação de habitat e perda de biodiversidade vegetal, criando um efeito dominó que afeta várias camadas da cadeia alimentar.
A ausência de certos herbívoros pode igualmente impactar negativamente os predadores que dependem deles como fonte de alimento. Isso pode levar à extinção local de predadores e a um desequilíbrio ecológico, afetando a estrutura e a dinâmica dos ecossistemas.
Impacto na saúde humana e bem-estar
A perda de biodiversidade pode afetar a disponibilidade de alimentos, pois muitas culturas agrícolas dependem de polinizadores, como abelhas e borboletas, que estão em declínio devido à defaunação. Sem esses polinizadores, a produção de alimentos pode diminuir, levando à insegurança alimentar e ao aumento dos preços dos alimentos.
A defaunação também pode aumentar o risco de doenças zoonóticas, que são transmitidas de animais para humanos. Com a diminuição das populações de predadores e a fragmentação de habitats, os humanos estão entrando em contato mais frequente com espécies silvestres, aumentando a probabilidade de transmissão de doenças.
E, sim, também estamos falando de saúde pública e bem-estar. Como novas doenças e os impactos na alimentação e recursos naturais, investimentos que poderiam ser gastos com a preservação da biodiversidade, refaunação e segurança climática geram mais custos às contas públicas.
Refaunação como resposta à defaunação
Imagem de drone destacando o recinto de reabilitação do filhote de onça pintada, Xamã, que está em processo de reintrodução no habitat natural. Com o nosso apoio, Xamã será o primeiro macho de onça pintada a ser reintroduzido no bioma amazônico.
Defaunação e refaunação, perda e restauração. A resposta para o problema é trazer de volta espécies que viviam em um habitat que sofreu os impactos das ações humanas. Dessa forma, resgatando os serviços naturais e ecossistêmicos que ali existiam.
Esse processo deve ser feito junto com a restauração e preservação ambiental, apoiado por especialistas, como biólogos e cientistas, que acompanharão a reintrodução das espécies silvestres nos ecossistemas.
Refaunação acelera a restauração da biodiversidade
A reintrodução de espécies em ecossistemas degradados pode aumentar significativamente a diversidade biológica. A refaunação reestabelece populações de animais que desempenham papéis vitais, como polinizadores, dispersores de sementes e predadores.
Este aumento na diversidade biológica melhora a resiliência dos ecossistemas, tornando-os mais capazes de resistir a perturbações e de se recuperar de eventos extremos. E também promove uma maior variedade de interações ecológicas, enriquecendo a complexidade e a funcionalidade dos ambientes naturais.
Refaunação ajuda na estabilização dos ecossistemas
A estabilidade dos ecossistemas é alcançada quando há equilíbrio entre as espécies e seu habitat, mesmo diante de eventos adversos e mudanças. A refaunação é crucial para restaurar essa harmonia perdida devido à defaunação.
Especialistas, como biólogos e pesquisadores, monitoram continuamente os habitats para garantir que o equilíbrio dos ecossistemas seja mantido. A refaunação é uma parte essencial desse processo, ajudando a restabelecer as interações ecológicas e a funcionalidade dos ecossistemas.
Para uma estabilização eficaz, a refaunação deve ser acompanhada por esforços para combater as mudanças climáticas e as ações destrutivas contra a natureza. Sem essas medidas, espécies da fauna e da flora continuarão em risco.
Restauração tem um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas
A refaunação também desempenha um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas. Animais reintroduzidos podem contribuir para o captura de carbono ao promover a regeneração de florestas e outros ecossistemas ricos em carbono.
Por exemplo, grandes herbívoros e predadores podem influenciar a estrutura da vegetação de maneiras que aumentam a biomassa e a capacidade de armazenamento de carbono dos ecossistemas.
Além disso, ecossistemas saudáveis e biodiversos são mais capazes de se adaptar às mudanças climáticas, fornecendo serviços ecossistêmicos críticos, como regulação do clima, purificação da água e proteção contra desastres naturais.
Apelo às políticas públicas
Sem políticas públicas que fiscalizem e punam responsáveis pela defaunação e impactos ambientais, continuaremos vendo essas situações acontecerem. O combate à defaunação é peça-chave para preservação da biodiversidade e do clima.
Exigir do governo mais políticas públicas que envolvam o aprimoramento do monitoramento e fiscalização, combate à grilagem e à atividades ilegais, atividades e investimento em educação ambiental e conscientização, entre outras.
Também devem estar contempladas propostas para a refaunação, oferecendo oportunidades e incentivos para que mais projetos consigam atingir as metas climáticas e preservação da biodiversidade.
Apoio à causa animal
Seja como voluntário, doador ou apoiador, atuar em conjunto com organizações que lutam pelo bem-estar e proteção animal é uma das formas de conter a defaunação. São essas pessoas e organizações que estão diariamente na linha de frente, exigindo de todos os âmbitos da sociedade ações efetivas e imediatas pelo fim da crueldade da vida silvestre.
Em mais de décadas de trabalho, nós colocamos luz à campanhas, mobilizações e pesquisas em prol da vida animal e de sua preservação. E são as diferentes formas de apoio que permitem que uma organização sem fins lucrativos alcance mais resultados.
Com a sua mobilização, podemos criar um mundo com respeito, livre de crueldade animal. Junte-se a nós hoje e faça a diferença na vida dos animais.