Por que as queimadas na Amazônia não param? Saiba o que está por trás do fogo!
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Em 2024, um terço dos incêndios registrados no Brasil ocorreu na Amazônia. Pesquisadores alertam: se nada for feito, o bioma pode atingir um ponto de não retorno.
Entre janeiro e outubro de 2024, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou quase 120 mil focos de incêndio na Amazônia, com a maior parte concentrada em áreas de intenso desmatamento, decorrente da expansão agropecuária.
Por se tratar de uma floresta tropical, a Amazônia raramente enfrenta incêndios naturais como esses que têm passado nos últimos anos, o que evidencia a urgência de monitorar as atividades humanas no bioma.
Ao incendiar áreas para a plantação de monoculturas ou pastagens, os ecossistemas naturais são alterados, desencadeando consequências que impactam não apenas a Amazônia, mas também outros biomas, como o Pantanal, e contribuem para mudanças climáticas globais.
Evolução no número de queimadas na Amazônia nos últimos anos
Em 2014, o Inpe registrou 82.553 focos de incêndio na Amazônia ao longo do ano. Em 2024, até o final de outubro, esse número já havia alcançado 119.279, um dado alarmante, considerando que a meta deveria ser reduzir a devastação desse bioma.
De acordo com um relatório divulgado pelo MapBiomas, os estados do Pará, Mato Grosso e Tocantins foram os mais afetados pelas queimadas, principalmente na região conhecida como “Arco do Desmatamento”, onde o agronegócio é o principal motor das queimadas, acumulando mais de 7 milhões de hectares de áreas destruídas. No nosso documentário BR-163: Progresso para quem?, relatamos a agressiva expansão agropecuária ao longo da BR-163, no norte do Brasil.
Ao analisar a última gestão do governo federal e comparar com os períodos de maiores incidências de queimadas na Amazônia, é evidente que algumas ações agravaram o enfraquecimento das políticas públicas destinadas a proteger a Amazônia e outros biomas importantes. Essas ações incluem o engavetamento do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), o sucateamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a flexibilização de leis que favoreceram a bancada ruralista no Congresso.
Qual o motivo das queimadas na Amazônia?
A histórica expansão dos grandes empreendimentos e também do agronegócio na Amazônia tem contribuído consideravelmente para o desmatamento, sobretudo com as monoculturas de soja e a abertura de amplos espaços de pastagens, que estão concentradas na parte sul e leste deste bioma.
Na década de 70, com a abertura da Transamazônica, foi facilitada a construção de estradas que propiciam a exploração de madeiras de lei e a construção de hidrelétricas. Somando-se a isto, também tem o crescimento das atividades de mineração. Apesar do Brasil ter conseguido a redução da taxa de desmatamento em 2012, os incêndios florestais continuam sendo um grave problema.
Em entrevista ao G1, Luiz Aragão, pesquisador do Inpe, explica que, apesar da redução, as áreas já devastadas – que somam mais de 800 mil quilômetros quadrados – continuam sendo usadas para pastagem e, com o uso recorrente do fogo no manejo de criação bovina, acabam sofrendo reincidências de incêndios. Aragão alega que não é o suficiente apenas reduzir o desmatamento, mas também é fundamental monitorar o que acontece com as áreas que já foram destruídas.
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Dados comprovam a relação do agronegócio com o desmatamento e as queimadas
Segundo o Sistema ALARMES, plataforma de monitoramento do fogo coordenada pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), nas regiões monitoradas na Amazônia, com o foco no norte do Mato Grosso e no leste do Pará, na divisa com o Maranhão, foram identificadas grandes áreas de plantação de soja. Já nos outros estados que compõem o bioma, foi percebida forte predominância da pecuária. Justamente nestes territórios, foram identificadas áreas queimadas que correspondem à cicatriz de fogo nos meses de agosto e outubro de 2024.
Imagem via satélite, disponibilizada pela LASA, identificando a área queimada (AQM) na Amazônia, com foco nos estados de interesse do bioma: Pará e Mato Grosso.
Ainda de acordo com o LASA, os focos de incêndio estão próximos ou atingem áreas importantes para a manutenção da floresta, como é o caso da Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, localizada na divisa entre o Pará e o Maranhão, e também do Centro de Endemismo de Belém (CEB), na capital paraense, onde habitam espécies criticamente ameaçadas ou estão em estado de vulnerabilidade de extinção, que só ocorrem no CEB.
Imagem via satélite, disponibilizada pela LASA, indicando incêndios que vêm sendo reportados na Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, localizada na divisa entre o Pará (à esquerda) e o Maranhão (à direita).
O LASA identificou também Unidades de Conservação (UC) sendo atingidas pelo fogo, nas proximidades da BR-163. As mais afetadas foram a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxime e a Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, ambas situadas no Pará, respectivamente com 20% e 15% de seus territórios prejudicados pelos incêndios.
Impactos das queimadas na Amazônia
A Amazônia é a casa de quase três quartos dos mamíferos que existem no Brasil, além de uma rica diversidade de aves, répteis e anfíbios. Outro fato a se considerar é a variedade da flora e de espécies que integram o reino animal (desde insetos, pequenos invertebrados e animais de pequeno porte) que ainda nem foram catalogadas. Estamos perdendo a biodiversidade brasileira sem mesmo conhecê-la.
No entanto, as queimadas ameaçam toda essa biodiversidade, destruindo habitats e ferindo animais, desequilibrando o ecossistema. E impactam também as comunidades locais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos, que dependem da floresta para sobreviver. A exposição à fumaça tóxica aumenta os casos de doenças respiratórias, afetando principalmente crianças e idosos, e gerando elevados custos ao sistema público de saúde.
Além dos impactos locais, as queimadas afetam o clima global. A Amazônia desempenha um papel crucial na formação das chuvas que alimentam as principais bacias hidrográficas do país e do Cone Sul, influenciando o clima mundial. Marcelo Dutra, ecólogo e doutor em Ciências, alerta que, se nada for feito, a Amazônia pode desertificar, afetando o fornecimento de água no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
“Em algum momento vamos presenciar, e talvez este momento não esteja tão longe, um ponto de não retorno da floresta, no qual ela perde sua capacidade de autosustentação. E é neste momento que a biodiversidade muda, por perder a sua capacidade de sustentar a biodiversidade. Deixa de ser uma floresta tropical e passa a ser algo parecido com uma savana, com algumas manchas de floresta. Ao mesmo tempo, todos os benefícios da floresta amazônica, como a produção dos rios aéreos, perdem força. Vamos sentir muito mais falta de água no Sul, Sudeste e no Centro-Oeste”, alerta Dutra.
Possíveis soluções para reduzir as queimadas
Uma alternativa para a redução das queimadas, não só na Amazônia, mais em outros biomas brasileiros afetados por elas, é a implantação do Manejo Integrado do Fogo (MIF), que segundo Lívia Carvalho Moura, Assessora Técnica do Programa Cerrado do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), é uma abordagem que combina a experiência e o conhecimento de diferentes povos e comunidades, pesquisadores e gestores em ações de combate e prevenção aos incêndios.
O MIF, além de incluir as atividades como preparação, prevenção e combate a incêndios e uso do fogo controlado, considera as necessidades socioculturais e econômicas das comunidades locais e os aspectos ecológicos necessários à conservação de diferentes ecossistemas.
Lívia Moura explica também que outras ações estão previstas nesta abordagem como o monitoramento, avaliação do manejo do fogo, pesquisas, educação ambiental, o registro do conhecimento e das práticas tradicionais, além da recuperação de áreas degradadas, capacitações e treinamentos, entre outras atividades, fazem parte do escopo do MIF.
A assessora técnica também destaca que o trabalho coletivo, de diferentes órgãos, comunidades, organizações, pesquisadores, entre outros atores, é a única maneira de reduzir os problemas com incêndios no atual cenário de mudanças climáticas e crime organizado, que segundo ela, geraram grande parte dos incêndios em 2024.
Outra solução para proteger biomas como a Amazônia é cobrar a efetivação de políticas públicas ainda na esfera municipal, como declara Marcelo Dutra. “Vale considerar que olhamos muito para o país, para o Estado, para as unidades federativas, mas a gente esquece que tudo acontece no município. E é no município que os impactos se reproduzem. Então, é também no município que a gente precisa lidar com as mudanças climáticas mais severas, que precisamos garantir políticas públicas para termos mais proteção ou termos mais investimentos em adaptação às mudanças climáticas”, alerta.
Dutra lembra ainda que as cidades precisam garantir uma produção no campo com mais segurança e os cuidados com a extensão da área cultivada, com garantias de reserva legal ou com cobertura ciliar que devem ser mais bem cuidadas. Ele destaca que nos municípios ocorrem diversas violações de leis de proteção ambiental.
Além de políticas públicas que visem a defesa da fauna e da flora, também é importante pensar em alternativas sustentáveis como a implantação do sistema agrossilvipastoril, do manejo florestal, de práticas de refaunação e recuperação de áreas degradadas e o incentivo de pesquisas que aliem tecnologia e conhecimentos tradicionais que não agridam a natureza.
Você pode fazer a diferença!
Mesmo morando longe da floresta amazônica, do Cerrado ou do Pantanal você pode realizar ações que protegem esses importantes biomas. Seja mudando a sua forma de consumir alimentos e produtos ou ainda cobrando dos governos por ações urgentes para combater a destruição desses e de outros biomas importantes. Veja como você pode participar das nossas campanhas e apoiar as nossas iniciativas que visam a defesa e o bem-estar animal.
Manifesto em defesa da vida silvestre
O manifesto é um alerta sobre a importância da refaunação, que se faz urgente, diante da destruição dos biomas brasileiros, sobretudo da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal. Queremos a sua ajuda para combater o desmatamento, o comércio ilegal de animais silvestres e a defaunação, que vem crescendo cada vez mais.
Petição para que a JBS pare de financiar o desmatamento
Acreditamos que é possível uma outra forma de vida para os animais de produção, não essa que atualmente é imposta, que não visa a saúde e o bem-estar. Por isso, lançamos essa petição exigindo que a JBS adote medidas pensando no bem-estar dos animais de fazenda, pare de financiar o desmatamento e implemente práticas que zerem suas emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.
Ajude a salvar os animais dos incêndios
Torne-se um protetor dos animais!
As queimadas, impulsionadas pelo avanço do agronegócio, estão destruindo nossas florestas. Os animais que conseguem escapar enfrentam novos perigos, como fome, sede e atropelamentos, enquanto muitas espécies estão à beira da extinção. Precisamos agir agora!
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