transição justa: imagem de uma placa escrito agroecologia na entrada de uma área ecológica

Transição justa: o caminho para um futuro sustentável e equitativo

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A transição justa é um conceito fundamental na luta contra as mudanças climáticas, que busca transformar o sistema alimentar atual em um modelo mais sustentável e equitativo.

A crise climática é um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade, e suas consequências são sentidas em todas as partes do mundo. O agravamento da degradação ambiental, a destruição de ecossistemas e as frequentes catástrofes naturais são sinais claros de que precisamos mudar radicalmente a forma como vivemos e produzimos.

Nesse contexto, a transição justa surge como um conceito essencial para que possamos enfrentar as mudanças climáticas de maneira equitativa, sustentável e com justiça social.

O que é transição justa?

A transição justa refere-se ao processo de transformação econômica e social necessário para migrar de práticas insustentáveis, como a produção animal industrial, para sistemas que respeitem os limites do planeta, os direitos humanos e o bem-estar animal.

Esse conceito se baseia na ideia de que, ao mudarmos nossos sistemas produtivos para enfrentar as mudanças climáticas, devemos garantir que ninguém fique para trás. Isso inclui trabalhadores, comunidades marginalizadas e aqueles que atualmente dependem de setores insustentáveis para seu sustento.

Na prática, uma transição justa implica mudar a forma como produzimos alimentos, energia e bens de consumo, promovendo alternativas sustentáveis. Mais do que uma simples mudança tecnológica, a transição justa envolve um compromisso com justiça social, econômica e ambiental, focando na inclusão de trabalhadores, comunidades e pequenos produtores no processo de transformação.

Por que a transição justa é tão importante?

O modelo atual de produção, especialmente a produção animal industrial, é insustentável e injusto, sendo responsável por 74% das emissões de gases de efeito estufa, segundo o Observatório do Clima. Em 2023, o Brasil encerrou o ano com mais de 500 milhões de animais explorados pela pecuária, incluindo 234,4 milhões de bois, 44,4 milhões de porcos e 259 milhões de frangos. Apesar disso, o setor continua a se expandir: neste ano, o Brasil abriu 100 novos mercados para a agropecuária, com 36 na Ásia, 35 nas Américas, 17 na África, 7 na Oceania e 5 na Europa, ampliando a exportação de carnes bovinas, suínas e frango, entre outros.

Além disso, a produção industrial de carne e laticínios causa a destruição de ecossistemas, como florestas e áreas de preservação, aumenta a poluição e representa uma ameaça direta à biodiversidade. A transição justa é importante porque reconhece que as mudanças necessárias para mitigar a crise climática vão além de questões ambientais – elas afetam também a vida das pessoas, especialmente as mais vulneráveis.

Sem uma transição justa, os custos dessas mudanças recairiam desproporcionalmente sobre trabalhadores, comunidades de baixa renda, povos indígenas e outros grupos marginalizados. Isso exacerbaria as desigualdades existentes, tornando a luta contra a crise climática ainda mais desafiadora.

Além disso, a transição justa é crucial para evitar o colapso ambiental e econômico. Se continuarmos no caminho atual, não apenas a biodiversidade e o clima estarão em risco, mas milhões de empregos em setores insustentáveis desaparecerão, deixando uma grande parcela da população sem alternativas de renda.

Quais benefícios a transição justa oferece para enfrentar as mudanças climáticas?

A implementação de uma transição justa pode trazer inúmeros benefícios para combater a crise climática. Entre os principais, destacam-se:

Redução das emissões de gases de efeito estufa

Uma transição para práticas agrícolas e alimentares sustentáveis, como a agroecologia, e a redução do consumo de produtos de origem animal, pode diminuir drasticamente as emissões do setor agropecuário, um dos maiores contribuintes para o aquecimento global.

Por exemplo, a agroecologia incentiva a rotação de culturas, o uso de adubos orgânicos e o plantio direto, técnicas que não apenas aumentam a saúde do solo, mas também reduzem as emissões de carbono associadas à produção convencional.

Preservação da biodiversidade

Ao adotar práticas agroecológicas e reduzir a dependência de monoculturas e da criação industrial de animais, a transição justa prioriza métodos de produção que respeitam os limites naturais dos ecossistemas. Isso inclui a promoção de fazendas diversificadas que mantêm uma variedade de plantas e animais, protegendo assim a saúde do solo e a biodiversidade local.

A agroecologia, por exemplo, propõe a combinação de culturas com árvores e vegetação nativa, criando paisagens agrícolas mais ricas em biodiversidade e que imitam os processos ecológicos naturais.

Promoção da soberania alimentar

Pequenos produtores e comunidades locais são fortalecidos com a transição para sistemas agroecológicos, garantindo o acesso a alimentos saudáveis e minimamente processados, respeitando os limites do planeta e os direitos das pessoas.

No Brasil, o movimento de agroecologia nas comunidades indígenas ajuda a preservar suas práticas agrícolas tradicionais, que fornecem alimentos diversificados e saudáveis, ao mesmo tempo que resistem à expansão do agronegócio, garantindo sua soberania alimentar.

Geração de empregos sustentáveis

A transição justa cria oportunidades de trabalho em setores emergentes, como a agricultura regenerativa e tecnologias verdes, ao mesmo tempo em que protege os direitos dos trabalhadores, oferecendo condições de trabalho dignas e uma participação mais justa nos lucros para pequenos agricultores, reduzindo a exploração frequentemente encontrada na produção industrial.

Melhoria da saúde pública

A promoção de dietas baseadas em vegetais e o abandono das práticas industriais prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, como o uso excessivo de antibióticos na pecuária, resultam em uma população mais saudável e em ambientes menos poluídos.

A pecuária industrial está no centro de diversas questões de saúde pública. Um dos principais problemas associados a esse modelo é o uso excessivo de antibióticos. Na criação intensiva de animais, antibióticos são comumente utilizados não apenas para tratar doenças, mas também para promover o crescimento rápido dos animais e prevenir enfermidades em condições insalubres. Isso contribui significativamente para a resistência antimicrobiana (RAM), um dos maiores desafios globais de saúde.

Equidade social

A transição justa coloca a justiça social no centro das soluções para enfrentar a crise climática, reconhecendo que as mudanças no sistema econômico e produtivo não podem acontecer sem levar em consideração as desigualdades profundas que afetam as populações mais vulneráveis.

A crise climática não afeta a todos de maneira igual — comunidades de baixa renda, povos indígenas, trabalhadores rurais e pequenos agricultores, bem como grupos marginalizados, são frequentemente os mais atingidos, apesar de serem os menos responsáveis pelas emissões e degradação ambiental.

Por isso, uma transição justa não se trata apenas de uma mudança tecnológica ou ambiental, mas também de lutar contra a pobreza e a desigualdade social, assegurando que todos tenham acesso equitativo aos recursos, às oportunidades e aos benefícios de uma economia mais sustentável.

Quem é responsável e está envolvido na transição justa?

A transição justa é uma responsabilidade compartilhada entre governos, empresas, sociedade civil, trabalhadores e indivíduos. Cada um tem um papel fundamental a desempenhar nesse processo transformador.

Os governos são responsáveis por criar políticas públicas que incentivem a transição para uma economia verde, regulando as indústrias poluentes, oferecendo suporte financeiro e técnico aos trabalhadores e comunidades afetadas, e investindo em educação e capacitação para empregos sustentáveis.

Mas, a responsabilidade não é só deles, as empresas também devem adotar práticas mais responsáveis e sustentáveis, ajustando suas cadeias de produção e investindo em tecnologias que respeitem os limites ambientais e sociais. Além disso, devem garantir condições de trabalho dignas e se comprometer com a redução de suas pegadas de carbono.

Nós, da Proteção Animal Mundial, desempenhamos um papel crucial ao pressionar os governantes e as empresas por mudanças, conscientizando o público sobre os impactos da crise climática e buscando soluções viáveis. Além disso, atuamos na defesa dos direitos das comunidades e animais, buscando um futuro mais justo e sustentável para todos.

Conclusão

É inegável que o atual sistema de produção alimentar está insustentável e esgotando nossos recursos naturais, enquanto perpetua injustiças sociais e ambientais. Na Proteção Animal Mundial, acreditamos que a transição justa é mais do que uma necessidade — é uma oportunidade transformadora. Não podemos continuar priorizando lucros corporativos em detrimento do bem-estar humano, animal e ambiental.

Precisamos romper com o modelo predatório de produção industrial e construir um futuro onde o equilíbrio entre pessoas, animais e natureza seja respeitado. A transição justa não é apenas uma solução para mitigar as mudanças climáticas; ela também é um caminho para criar uma sociedade mais equitativa, onde todos — desde trabalhadores rurais até consumidores — possam prosperar em harmonia com o planeta.

Estamos comprometidos em pressionar governos, empresas e indivíduos a adotarem práticas mais éticas e sustentáveis. A responsabilidade é coletiva, mas a ação começa com cada um de nós. Juntos, podemos construir um sistema alimentar que respeite o meio ambiente e promova o bem-estar de todos.

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