Turismo com silvestres: é justo que sua diversão se baseie na exploração animal?
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Por João Almeida
A necessidade de se sentir próximo à natureza leva turista a atrações com animais silvestres. Mas será que isso é bom?
No senso comum, uma das consequências da evolução humana é o processo civilizatório que afastou bastante a sociedade da natureza. Os homens passaram a viver em cidades e a trabalhar por tecnologias e por um modo de vida que dominasse o mundo natural. Ainda assim, os seres humanos buscam elementos que o mantenham com alguma ligação com o meio ambiente.
Essa necessidade pode ajudar a explicar o fato de algumas pessoas comprarem ou capturarem animais silvestres para criá-los como bichos de estimação. É também o motivo que leva muita gente a procurar lazer e viagens que possibilitem algum contato com a fauna. Mas será que isso é bom? Depende.
Se você for a um parque nacional, por exemplo, poderá ver animais em seu ambiente natural, livres e cumprindo suas funções na natureza. Como deve ser.
Ou ainda, se você praticar a observação de aves (birdwatching), poderá ter contato com elas sem sair da cidade. Há inúmeros grupos de observadores nas redes sociais.
A crueldade das atrações com animais
Agora, se na sua viagem de férias você resolver assistir a shows de golfinhos, montar ou dar banho em elefantes, nadar com botos ou tirar selfies segurando animais, aí surgem os problemas.
Atualmente, cerca de três mil golfinhos vivem em cativeiro para entreter turistas. Esses carismáticos animais são privados de comida nos treinamentos, forçados a procriar para, em seguida, serem separados dos filhotes, usados como pranchas de surfe em espetáculos com multidões e música alta, forçados a suportar um fluxo interminável de turistas a procura da selfie perfeita, além de viver em piscinas milhares de vezes menores que seus habitats naturais.
Em um minidocumentário produzido pela Proteção Animal Mundial, uma ex-treinadora de golfinhos revela as mentiras que a indústria do turismo conta às pessoas para deixá-las felizes e esconder a crueldade que pratica com os animais - e para ganhar mais dinheiro.
Se formos pensar na situação dos elefantes, muita crueldade também está sendo praticada. Até janeiro de 2020, 3.837 desses animais eram explorados para turismo na Tailândia, Índia, Laos, Camboja, Nepal, Sri Lanka e Malásia, gerando entre 581,3 milhões de dólares a 770,6 milhões de dólares por ano.
Dá para imaginar que 63% desses elefantes vivem em condições severamente inadequadas? Durante os treinamentos, eles sofrem com falta de comida e agressões físicas para deixá-los submissos. Os filhotes são separados das mães após nascimento e os cuidados veterinários são limitados ou inexistentes.
Turismo com animais no Brasil
Se essa realidade é um pouco distante da sua, vamos então abordar o que acontece na Amazônia e no Nordeste.
Nessas regiões, é comum que animais sejam capturados e mantidos ilegalmente em cativeiro para que turistas os toquem ou façam selfies com eles.
Dezenas de empresas oferecem pacotes com a possibilidade de encontros com animais no estado do Amazonas. Em 2017, por exemplo, a Proteção Animal Mundial descobriu que 94% das 18 agências de turismo de Manaus que investigamos ofereciam passeios com a oportunidade de tocar e fotografar animais como o boto-vermelho, a preguiça-de-três-dedos, o jacaretinga, a sucuri-verde e o macaco-de-cheiro.
Tenha a certeza de que o uso desses animais para entreter turistas é baseado em maus-tratos. Os botos acabam se machucando ao disputar com outros as iscas jogadas pelos visitantes. Já os demais animais são capturados na natureza e mantidos presos em ambientes e com tratamento totalmente inadequado.
Não pague por esse tipo de passeio e compartilhe essas informações com seus familiares e amigos. Se, em uma agência de viagem, informarem que o passeio inclui visitas a comunidades tradicionais com possibilidade de contato com animais, desconfie e não participe.
Esses animais são ilegalmente capturados na natureza e sofrem bastante.
Outra forma criminosa de exploração de animais silvestres para entretenimento que já foi registrada no Brasil são os horrorosos safaris para caça de onças-pintadas. Pacotes turísticos com estadia, alimentação e guias são organizados e oferecidos principalmente para estrangeiros matarem esses felinos na Amazônia e no Pantanal.
Brasileiros também praticam esse tipo de caça. Um grupo de moradores do Acre, por exemplo, é acusado de ter matado por diversão mais de mil onças. O caso está na Justiça. Infelizmente, por todo o país, esse tipo de caça ilegal ocorre envolvendo animais das mais diversas espécies.
#MeDeixaSerSelvagem
Representantes dos países membros do grupo das 20 principais economias do mundo, o G-20, do qual o Brasil faz parte, se reúnem nos dias 21 e 22 de novembro. Vamos exigir deles um plano para acabar com o comércio global de animais silvestres de uma vez por todas?
Ajude-nos a pressionar os líderes mundiais para acabarem com essa crueldade!
Escolha um dos desafios abaixo e poste nas redes sociais com #MeDeixaSerSelvagem.