Disfarçada de medida de proteção, cota para matança de golfinhos nas Ilhas Faroe dá aval oficial a uma atrocidade
Comunicado de imprensa
Decisão governamental libera um limite elevado para a caça dos animais considerando como referência o massacre excepcional ocorrido em 2021. Histórico revela que em muitas temporadas nenhum animal sequer foi morto
São Paulo, 14 de julho de 2022 – No próximo dia 25 entra em vigor uma ordem executiva nas Ilhas Faroe estabelecendo uma cota anual máxima de 500 mortes de golfinho-de-laterais-brancas-do-atlântico (Lagenorhynchus acutus). A medida, assinada pelo presidente Stieg Bardur Nielsen, vem após o massacre de 1.428 animais da espécie no ano passado. A matança tingiu de sangue as águas de Skålefjorden, um fiorde a oeste do país, que é um território autônomo da Dinamarca.
O episódio chocante despertou fortes críticas por parte de entidades ligadas às causas animal e ambiental em todo o mundo, além de gerar indignação local. Depois do fato, o presidente afirmou que os faroenses deveriam avaliar o papel que a caça aos golfinhos desempenharia na cultura nacional. Agora se vê que as intenções não levavam em conta o bem-estar animal.
O que à primeira vista poderia ser entendido como uma reprovação pública e boa iniciativa, na avaliação da Proteção Animal Mundial, organização não-governamental que trabalha em prol do bem-estar animal, não passa de uma grande farsa e uma ofensa grave para a vida silvestre marinha.
Até hoje, nunca houve cotas para mortes de golfinhos nas Ilhas Faroe. Apesar da ausência de regulação, apenas em 2021 – pela primeira vez em 12 anos – mais de 500 golfinhos faroenses foram caçados e mortos. Entre 2009 e 2020, em média 116 golfinhos foram mortos anualmente. O que é pior: por diversos anos nessa série estatística a quantidade de animais mortos foi exatamente 0.
“Em primeiro lugar, não existe uma tradição antiga nas Ilhas Faroe de caçar e matar esses golfinhos. A caça a esses ágeis nadadores só foi possível nos últimos tempos com o uso de lanchas de alta velocidade. Nunca houve cotas oficiais de matança de golfinhos até agora. Simplesmente não está certo que o governo faroense dê oficialmente a esse tipo de caça um selo oficial de aprovação ”, diz Gitte Buchhave, diretora da Proteção Animal Mundial na Dinamarca, em referência aos dados do Ministério da Pesca das Ilhas Faroe.
Além da comoção global, vários moradores expressaram claramente seu desgosto com o massacre sangrento. Eles relataram que inúmeros animais ficaram feridos, se debatendo na água vermelho-sangue até morrer. Em postagem em uma rede social, um homem resumiu seu sentimento com as palavras: "Tenho vergonha de ser das Ilhas Faroe".
Falsificando uma solução
Na prática, o decreto presidencial não impõe uma restrição, mas, pelo contrário, oficializa um radical aumento da caça por encurralamento dos golfinhos nas Ilhas Faroe, conhecida localmente como grind. A medida contribui assim para uma normalização da prática como o que já ocorre anualmente nas não menos infames matanças das baleias-piloto (que são, na verdade, um dos maiores tipos existentes de golfinho).
“Embora as autoridades faroense estejam tentando fazer o número de 500 animais parecer um passo à frente, na verdade é um grande retrocesso. É um selo de aprovação inaceitável matar animais selvagens que são expostos a estresse violento durante a caça, bem como a sofrimento desnecessário durante os assassinatos, uma vez que eles podem agonizar na água por vários minutos antes de finalmente morrerem em razão dos ferimentos infligidos de facas primitivas e arpões de lança ”, diz Gitte Buchhave.
Fatos sobre golfinhos
- Os golfinhos são a menor espécie de baleia, e o mamífero marinho mais inteligente do mundo;
- Existem 42 espécies de golfinhos conhecidas no mundo que vivem juntas em bandos maiores ou menores passando em família a maior parte de suas vidas;
- Os golfinhos são animais altamente inteligentes. São capazes de se reconhecer em um espelho, aprender linguagem de sinais simples e entender frases humanas simples;
- Eles se comunicam, caçam e brincam juntos por meio de cliques, e cada golfinho tem seu próprio “assovio” único que permite que eles se reconheçam a grandes distâncias.
Nunca houve cotas oficiais de matança de golfinhos até agora. Simplesmente não está certo que o governo faroense dê oficialmente a esse tipo de caça um selo oficial de aprovação - Gitte Buchhave, diretora da Proteção Animal Mundial na Dinamarca