Bancos brasileiros avançam na proteção de habitats com política que nega crédito a frigoríficos que compram gado de áreas desmatadas ilegalmente
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Apesar do avanço positivo com o protocolo de autorregulação para a cadeira de carne bovina, os bancos também precisam olhar para o bem-estar animal
Em anúncio oficial realizado no dia 30 de maio, os principais bancos brasileiros declararam que só oferecerão crédito a frigoríficos que comprovarem não comprar gado criado em áreas de desmatamento ilegal na Amazônia Legal e no Maranhão.
Aprovado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), essa determinação vem de um protocolo comum de autorregulação para a cadeia de carne bovina no país e valerá tanto para fornecedores diretos quanto indiretos.
A iniciativa tem como objetivo combater o desmatamento na região, já que o rastreio de gado é apontado por especialistas como a principal ferramenta para reduzir as derrubadas de florestas no Brasil.
“Do ponto de vista de preservação habitats e de proteção da vida silvestre, essa parece ser uma medida na direção certa. Mas por enquanto são apenas boas intenções anunciadas. Queremos ver na prática os resultados. Combate ao desmatamento, rastreio completo do gado e bem-estar na produção já deveriam ser realidades hoje”, declara Karine Rie Ishida, Coordenadora de Campanhas de Sistemas Alimentares da Proteção Animal Mundial.
Para Karina, o protocolo também poderia ser mais ambicioso, incluindo desde já outros biomas brasileiros muito impactados pelo desmatamento, como o Cerrado. “A perda de biodiversidade é um processo que ocorre hoje e em ritmo acelerado. Mais do que frear isso, precisamos reverter para não sofrermos as consequências”, acrescenta.
Até o momento, o acordo conta com a adesão de 21 instituições financeiras brasileiras Entre elas estão Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, Caixa, Santander e BTG, que passarão a exigir dos frigoríficos que implementem um sistema de monitoramento e rastreabilidade até dezembro de 2025. Os empréstimos só serão concedidos às empresas que cumprirem a exigência.
Bancos também precisam olhar para o bem-estar animal
Atualmente, nenhuma instituição financeira considera o tema de bem-estar animal em suas políticas socioambientais.
Como resultado, todos os bancos zeraram neste tema na 9ª edição do Guia dos Bancos Responsáveis (GBR)*, um estudo que avalia 18 temas das políticas de sustentabilidade que os maiores bancos brasileiros possuem em relação às empresas que financiam ou nas quais investem.
“Do ponto de vista dos consumidores, nenhum cliente de banco espera que seu dinheiro guardado esteja sendo utilizado para fomentar atividades que não respeitam padrões adequados de produção de proteína animal. Mas é o que acontece quando uma instituição financeira não possui uma política interna que exige critérios de bem-estar animal para a concessão de crédito aos empreendimentos do setor da pecuária. Além de práticas cruéis, a falta destes critérios pode levar inclusive a crises sanitárias que afetam a saúde humana”, comenta Fábio Machado Pasin, Pesquisador do Programa de Serviços Financeiros do Idec.
Analisado como tema independente pela primeira vez em 2022, o GBR avaliou se os bancos possuem diretrizes socioambientais que estabelecem como critério para a concessão de crédito o tratamento adequado dos animais de produção e a proteção dos animais silvestres.
Considerando a carteira de financiamento dos bancos brasileiros, tais critérios deveriam ser atendidos por empresas nos setores da pecuária, pesca, peles e couro, produtos farmacêuticos, cosméticos, criação de animais de estimação, entre outras.
“Nas granjas, a ciência do bem-estar animal garante os direitos mínimos de saúde, alojamento, alimentação e manejo adequados dos animais, provendo ambientes com enriquecimento ambiental, piso e condições sanitárias adequadas e os protege do uso abusivo de medicamentos. No Brasil, os bancos nacionais representam 74% dos investimentos na produção de carne e da soja, que é usada majoritariamente para ração animal. Ou seja,, os bancos possuem grande responsabilidade em exigir que seus investimentos não financiem produções insustentáveis e cruéis”, comenta Karina.