COP 29 avança com falsas soluções climáticas
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Mercado de carbono disfarça inação e nova NDC brasileira mantém desmatamento "legal", desafiando o compromisso de conter aquecimento global
Nossa equipe está representando você na programação oficial da COP 29, realizada em Baku, Azerbaijão, entre 11 e 22 de novembro, com o objetivo de colocar a crise climática no centro das discussões e exigir ações reais para o futuro do planeta.
No dia 16, promovemos um painel com a participação da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares), destacando a importância do bem-estar animal e da agricultura familiar para o equilíbrio climático. A sessão contou com a participação da Natália Figueiredo, Gerente de Políticas públicas da Proteção Animal Mundial no Brasil, que reforçou nosso compromisso com soluções sustentáveis e inclusivas.
“Somos uma das poucas organizações da sociedade civil que defendem a inclusão dos animais na transição de que precisamos, destacando nosso compromisso com um futuro sustentável”, explica Natália. “Fizemos conexões valiosas, mas as negociações estão tensas, com muitas questões ainda não resolvidas”.
COP 29 - Desafio Climático - Liderança Juvenil em ação
Infelizmente, a COP 29 tem sido marcada pelo avanço de falsas soluções, como o mercado de carbono e a falta de ambição nas metas climáticas. A nova NDC apresentada pelo Brasil, por exemplo, permite a continuidade do desmatamento "legal" e negligencia ações fundamentais para conter o aquecimento global.
Exija o fim da pecuária industrial
Mercado de carbono: uma fachada para inação
Logo no primeiro dia da COP 29, um acordo sobre o mercado global de carbono foi fechado às pressas e de portas fechadas, excluindo a sociedade civil das discussões. Esse mecanismo, criticado como greenwashing, cria uma ilusão de progresso ao permitir que países e empresas comprem créditos de carbono, sem garantir a redução real de emissões de gases de efeito estufa.
No Brasil, o Senado seguiu o exemplo ao aprovar, no dia 13, um projeto de lei que regulamenta o mercado nacional de carbono, agora em análise prioritária pela Câmara dos Deputados. Na prática, esse modelo funciona como uma licença para poluir, desviando o foco de ações realmente eficazes, como o combate ao desmatamento e aos impactos da pecuária industrial. Pior ainda, o texto exclui explicitamente o setor agropecuário de qualquer limite de emissões, protegendo um dos principais responsáveis pela destruição ambiental no país.
NDC brasileira: tímida, insuficiente e perigosa
A nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) apresentada pelo Brasil na COP 29 preocupa por estar alinhada aos interesses do agronegócio. A meta permite altos níveis de desmatamento "legal" até 2035, desafiando o compromisso de zerar o desmatamento em todos os biomas nos próximos cinco anos, como exige o Acordo de Paris, que visa conter o aquecimento do planeta em 1,5°C.
Além disso, a nova NDC ignora completamente a proteção animal como parte das estratégias climáticas. A eliminação gradual da pecuária industrial — que é uma das principais causas do aquecimento global — não é abordada, deixando de reconhecer que transformar o sistema alimentar é essencial para promover justiça social, proteger a saúde pública e conservar o meio ambiente.
A pecuária industrial e seu papel na crise climática
A produção de alimentos baseada na agropecuária industrial é a segunda maior causa do aquecimento global, perdendo apenas para o setor energético. Apesar disso, o tema segue marginalizado nas discussões climáticas. Importante destacar que a COP existe há mais de três décadas, mas os sistemas alimentares só começaram a ganhar espaço em 2017, na COP 23.
A criação intensiva não apenas substitui práticas agrícolas tradicionais e sustentáveis, mas também destrói biomas e impõe sofrimento a bilhões de animais. Todos os dias, 206 milhões de frangos, 4 milhões de porcos e 846 mil vacas são confinados e abatidos em sistemas industriais — mais de 77 bilhões de animais por ano.
No Brasil, biomas como a Amazônia e o Cerrado são devastados para dar lugar ao cultivo de soja, cuja produção é destinada em sua maioria (80%) à fabricação de ração para animais de fazendas industriais. Desmatamento e queimadas intencionais seguem devastando a biodiversidade e agravando as mudanças climáticas, colocando o país como um dos maiores emissores globais de gases de efeito estufa.
Olhando para o futuro: COP 30 e justiça alimentar
Adotar mudanças sistêmicas e culturais, com menos estímulos ao consumo de carne e mais incentivo aos alimentos agroecológicos, é crucial para a adaptação climática. Pesquisas indicam que uma transição da sociedade para dietas diversificadas e ricas em vegetais, tal qual nossos ancestrais, pode reduzir as emissões globais em 70% até 2050.
Para Tricia Croasdell, CEO da Proteção Animal Mundial, os líderes mundiais precisam ter coragem se realmente quiserem fazer algo para nos salvar dos estragos da crise climática. “O caminho é reconhecer que o tratamento adequado dos animais, particularmente em nosso sistema alimentar, é fundamental para a sobrevivência de nossa própria espécie”.
Mais do que nunca, as esperanças e expectativas climáticas estão voltadas para a Amazônia, que vai sediar a próxima edição da conferência do clima. “O papel do Brasil nesta COP é vital para abordar tópicos que moldarão a COP 30 em Belém”, destaca Natália. E o tema do momento é financiamento para soluções.
Enfrentar a crise climática é financiar uma transição para um sistema alimentar equitativo, humano e sustentável. Junte-se a nós na cobrança por soluções reais!