Pantanal: focos de incêndio aumentam exponencialmente e quem sofre é a fauna local
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Animais incinerados, incluindo macacos, cobras e jacarés, mostram a extensão do problema que assola a maior região alagável do mundo.
Os focos de incêndio aumentaram 1025% nos seis primeiros meses de 2024. Nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, os registros chegaram a 1193 focos entre 1º de janeiro e 7 de junho deste ano contra 106 no mesmo período de 2023.
As informações do Programa de BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam um ranking desolador: o Pantanal já acumula o 2º maior índice de incêndios desde 2010. O número só perde para 2020, quando as chamas destruíram 4 milhões de hectares.
Especialistas já afirmam que vamos superar a tragédia de 2020, devido à alta incidência de incêndios ocorrendo em uma seca antecipada. Outro dado agravante é a seca recorde da principal bacia do bioma, o rio Paraguai, que está mais de dois metros abaixo da média.
Impulsionado pelo aquecimento global e agravado pelo El Niño, o grande vilão dessa tragédia ambiental é o desmatamento provocado por atividades agropecuárias e a queimada intencional de áreas que saem totalmente do controle.
“A lógica é perversa e cruel com os animais. As queimadas dessa época seca não são naturais do bioma e tiram lar e exterminam milhares de vidas silvestres.”, explica Júlia Trevisan, coordenadora de Vida Silvestre da Proteção Animal Mundial.
A necessidade de proteger efetivamente o Pantanal não é de desconhecimento das autoridades. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) chegou ao entendimento que esse bioma é um patrimônio nacional e que merece, por parte do Congresso Nacional, tratamento legislativo específico. A decisão determina ainda prazo de 18 meses para que seja criada regra específica para o Pantanal.
É importante destacar que o Congresso Nacional vem trabalhando no enfraquecimento de toda a legislação ambiental brasileira sistematicamente. Um grande exemplo é o Projeto de Lei da Devastação. Se aprovado, vai diminuir o rigor necessário para a autorização de licenciamentos ambientais, o que poderá agravar a situação já caótica enfrentada.
“É necessário acompanhar essa pauta e dizer não às ações nocivas vindas do agrolobby do Congresso Nacional”, afirma Júlia.
Ciclo de crueldade
No primeiro momento, quando ocorrem as queimadas para a expansão de atividades ligadas a pecuária, os animais silvestres, que são sencientes, ou seja, que assim como os humanos sentem emoções complexas como dor, medo e empatia, sofrem com queimaduras pelo corpo e asfixia, muitas vezes vindo a óbito ou escapando com sequelas que impedem a sobrevivência por conta própria, aumentando a vulnerabilidade e a exposição a predadores.
Os que sobrevivem se deparam com o bioma de origem transformado em pastos e com pouca opção de alimento. Ao perderem o bioma, os animais silvestres se deslocam em busca de um novo lar, seguro e com oferta alimento.
Órfãos do Fogo
Emblemático é o caso das tamanduás-fêmeas. Mortas por atropelamento, deixam órfãos os pequenos mamíferos dependentes da mãe para sobreviver. Se não são resgatados, além de sofrerem com a morte da mãe (são sencientes e ficam emocionalmente abalados com a perda de um ente), acabam vindo a óbito por falta de cuidados adequados.
Nós, da Proteção Animal Mundial, atuamos como patrocinadores e consultores do projeto Órfãos do Fogo, criado para assistir os animais resgatados dos incêndios e realizado pelo Instituto Tamanduá. No início de 2023, atuamos na reintrodução ao habitat de dois tamanduás-bandeiras, Cecília e Darlan. Os animais chegaram ao Instituto Tamanduá após serem resgatados pela Polícia Ambiental.
Outro símbolo das queimadas é o Xamã, onça-pintada resgatada com dois meses de vida com o nosso apoio no Mato Grosso, em 2022. Até o final do ano, o felino deve ser o primeiro macho da espécie reintroduzido na floresta amazônica.
Impacto coletivo
O prejuízo do desmatamento nos nossos biomas vai além da vida animal; ele afeta a todos nós. Escassez de água, aumento dos preços dos alimentos, aumento do uso de agrotóxicos, degradação ambiental e as mudanças no clima são apenas algumas das consequências. Comunidades tradicionais e povos originários são altamente impactados pela expansão do agronegócio.
“Queremos que os animais vivam em seus habitats naturais, livres de qualquer exploração e ameaças, realizando seus comportamentos naturais e funções ecológicas que tanto beneficiam a eles mesmos e a todo planeta”, finaliza Júlia.
Não ao PL da Devastação
Em parceria com outras 40 organizações, estamos lutando para barrar retrocessos no licenciamento ambiental por meio da campanha #PLdaDevastação.
Precisamos rejeitar a proposta que veio da Câmara. É hora de entrarmos com tudo que temos: a mobilização da sociedade.
Pressione os senadores para que votem contra o PL 2159/21!
Juntos, podemos impedir esse retrocesso e proteger as pessoas, os animais e o nosso planeta!