Agricultor segurando muda - foto: Freepik

Líderes mundiais recebem documento que alerta para impactos do atual sistema alimentar

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Assinamos a carta aberta que pede às lideranças do G20 e instituições financeiras internacionais para repensarem sobre a forma de produzir alimentos

Nós e diversas outras organizações não-governamentais de todo o mundo assinaram uma Carta Aberta que foi entregue durante o último dia da cúpula do G20, realizada no Rio de Janeiro, entre 18 e 19 de novembro. Tanto os líderes dos países que integram o "Grupo dos Vinte", quanto bancos internacionais que participam da Aliança Global para acabar com a pobreza e a fome, receberam o documento que cobra uma nova postura quanto à produção alimentar, uma vez que o formato atual, além de não reduzir a fome, só agrava a emergência climática que o planeta vem enfrentando.

O G20 reúne as maiores economias do mundo e tem o objetivo de aprovar acordos que apontem soluções para resolver os desafios globais. Um desses desafios é justamente, até 2030, eliminar a pobreza extrema e a fome, com políticas e programas em larga escala. A presidência do G20 é rotativa e em dezembro de 2023 o Brasil foi o país líder responsável por assumir a presidência.

A Aliança Global - proposta pelo Brasil e lançada na abertura da cúpula do G20 - pretende atingir cerca de 500 milhões de pessoas com programas de transferência de renda em países de baixa e média-baixa renda, além de aumentar as refeições escolares para mais 150 milhões de crianças em países com pobreza infantil e fome endêmicas.

O que pede a Carta Aberta

Assinada por mais de cem instituições da sociedade civil de várias partes do mundo, a carta lembra da responsabilidade de países mais ricos em financiar ações que possam combater a fome. “Mas esse incentivo precisa ser direcionado para sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis, de modo a apoiar, e não a prejudicar esse objetivo”, cita um trecho do documento que também solicita aos financiadores da Aliança Global e aos países do G20 que invistam em sistemas alimentares que, de fato, sejam sustentáveis. “Deixem de financiar o sistema que originou a crise atual”, enfatizam as organizações. 

A carta também reforça a urgência do alinhamento das políticas atuais aos princípios da Aliança Global contra a Pobreza e a Fome no que tange ao apoio para pequenos produtores que não possuem vínculos com corporações industriais, para que, desta forma, sejam estimulados sistemas alimentares diversificados que  utilizem práticas agroecológicas e promovam a equidade de gênero, enfatizando ainda a garantia do bem-estar animal. 

“Diversos relatórios científicos, incluindo os da Eat Lancet, IPCC, IPBES e o recente ‘Receita para um Planeta Habitável’ do Banco Mundial, mostram que a transição para dietas mais ricas em vegetais é urgente para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo o ODS2, de erradicação da fome”, ressalta o documento. 

A carta destaca que os maiores bancos, que inclusive se mostraram comprometidos em somar esforços junto à Aliança Global, já forneceram cerca de 3 bilhões de dólares em financiamento ao setor de pecuária industrial. “Além de ser o maior vetor de desmatamento e o maior emissor de metano antropogênico (um fator chave para as mudanças climáticas), esse setor também agrava a insegurança alimentar”, alerta.

É urgente um novo sistema de produção de alimentos

Vários estudos e relatórios - como o “Prática atrasada, Terra arrasada” - comprovam que a pecuária industrial é uma das principais responsáveis por emissões de gases de efeito estufa e o quanto é urgente que as empresas assumam o compromisso em reduzi-las. O desmatamento, que também afeta a vida dos animais silvestres, está diretamente ligado com o sistema vigente de produção alimentar que não prioriza o bem-estar dos animais de produção. 

O assunto é tão grave que estivemos na 29ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 29), neste mês de novembro, em Baku, Azerbaijão, com o objetivo de chamar a atenção à importância destes impactos no meio ambiente.

Além da devastação ambiental e todas as consequências negativas que ela traz para a fauna e sua contribuição para o agravamento da emergência climática - com incêndios, períodos prolongados de secas e a redução de áreas de florestas primárias -, a agropecuária industrial também representa um risco à saúde humana com o uso irresponsável de antibióticos.   

Se não agirmos agora e não valorizarmos práticas como a agricultura familiar, os sistemas de agrofloresta, entre outras atividades que aliem desenvolvimento sustentável, bem-estar animal e preservação da fauna e da flora, cada vez mais nos aproximamos do aquecimento do planeta que não pode ultrapassar o limite de 1,5º, com o risco de agravar os problemas que já enfrentamos, não só naturais, mas também os econômicos e sociais, colocando em risco a própria sobrevivência humana. 

Crédito imagem: Freepik

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