Pesca fantasma pode impactar 69.000 animais marinhos por dia no Brasil
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Estudo inédito da Proteção Animal Mundial aponta casos de pesca fantasma em 70% do litoral brasileiro, inclusive em área protegidas
A pesca fantasma pode impactar até 69.000 animais marinhos por dia no Brasil. A estimativa assustadora foi divulgada pela Proteção Animal Mundial, nesta sexta-feira (7), em seu novo relatório “Maré Fantasma – Situação atual, desafios e soluções para a pesca fantasma no Brasil”.
É a primeira vez que se calcula o impacto negativo provocado pelo abandono e perda de materiais de pesca na costa brasileira. Entre os animais afetados estão baleias, tartarugas marinhas, toninhas, tubarões, raias, garoupas, pinguins, caranguejos, lagostas e aves costeiras.
O lançamento do relatório aconteceu durante o evento “Oceano Plástico: como escapar desse emaranhado?”, promovido pela organização em parceria com a ONU Meio Ambiente, em São Paulo.
Meia tonelada de redes por dia
Segundo o levantamento inédito, mais de 6.000 toneladas de redes de pesca são produzidas ou importadas por ano no país. Com base nisso e usando estimativas de perda de equipamentos publicadas, estimou-se que mais de meia tonelada desses materiais podem ser abandonados ou perdidos nos mares brasileiros. São cerca de 580 quilos por dia.
À deriva no oceano, os petrechos de pesca podem impactar 69.000 animais marinhos todos os dias – seja prejudicando o ecossistema ou diretamente ferindo, mutilando, emaranhando, sufocando e até matando o animal.
Esses equipamentos são encontrados em 70% da costa brasileira (12 dos 17 estados costeiros), incluindo áreas de proteção ambiental, como unidades de conservação. O relatório consolida dados científicos, relatos de agências de mergulho e ações de limpeza de praia.
“Para implementar políticas eficazes contra a pesca fantasma é preciso saber onde há maior incidência desse impacto e quais espécies são mais prejudicadas. Por isso, esse estudo é tão importante”, afirma Helena Pavese, diretora executiva da Proteção Animal Mundial.
Para ela, o conhecimento sobre a pesca fantasma ainda é muito incipiente no Brasil. “São Paulo e Santa Catarina são os únicos estados que apresentam estudos consistentes”, completa a diretora, lembrando que o relatório Maré Fantasma foi possível graças à colaboração da ONU Meio Ambiente, Instituto Baleia Jubarte e WWF-Brasil.
De baleias a botos cor-de-rosa na Amazônia
A pesca fantasma é caracterizada por petrechos de pesca, como redes, linhas e armações, que são perdidas ou descartadas nos mares e seguem ameaçando a vida marinha. Globalmente, o volume de equipamentos de pesca largados nos oceanos por ano chega a 640.000 toneladas.
“Além do sofrimento causado à fauna marinha e dos reflexos negativos à conservação das espécies, as redes de pesca abandonadas, que são feitas de material plástico, têm um alto impacto ambiental pela demora em sua decomposição, até 600 anos”, explica João Almeida, gerente de Vida Silvestre da Proteção Animal Mundial.
A estimativa é que 5 a 30% do declínio populacional de algumas espécies pode ser atribuído à pesca fantasma. “Essa prática pode, inclusive, ser o principal fator para a redução drástica da população de boto-cor-de-rosa e o tucuxi, na Amazônia”, afirma o gerente.
Combatendo a pesca fantasma
Para reverter essa situação, a Proteção Animal Mundial promove a campanha Sea Change que visa chamar a atenção para o problema e conscientizar o governo, o setor privado e a população para que medidas comecem a ser tomadas no Brasil.
A Proteção Animal Mundial atua contra pesca fantasma por meio de três frentes: reduzir o descarte inadequado de redes de pesca; remover os petrechos e promover soluções inovadoras de reciclagem para os equipamentos; apoiar os esforços de resgates seguros de animais emaranhados.
Conheça a nossa Iniciativa Global de Combate à Pesca Fantasma.
No Brasil, a pesca fantasma ameaça animais como baleias, tartarugas marinhas, toninhas, tubarões, raias, garoupas, pinguins, caranguejos, lagostas e aves costeiras