Animais são colocados em risco em vídeos de “resgate falso” nas redes sociais
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Coalização internacional alerta contra maus-tratos animais nas redes sociais e apela para que as empresas de mídias sociais tomem ações para combater esse tipo de conteúdo que visa apenas gerar engajamento e lucro.
Nossa equipe, em parceria com outras 28 organizações que fazem parte da Social Media Animal Cruelty Coalition (SMACC), lançou o relatório “Identifique o Golpe: desmascarando falsos resgates de animais”, que tem como objetivo denunciar a situação de exploração animal em vídeos criados para entretenimento e captação de dinheiro nas redes sociais.
O levantamento também visa educar o público para não engajar – seja por meio de curtidas, compartilhamentos e comentários, mesmo que negativos – e para denunciar essas contas e perfis. Por último, o estudo é um alerta para as plataformas que não atuam com rigor para banir esse tipo de conteúdo.
Durante seis semanas de levantamento, identificamos mais de 1.022 links de vídeos falsos de resgate animal em plataformas como Facebook, Instagram, YouTube, TikTok e Twitter/X. Esses vídeos foram assistidos mais de 572 milhões de vezes. Desse total, 52% dos links foram encontrados em plataformas de propriedade da Meta, Facebook e Instagram, com o YouTube e o TikTok apresentando cerca de um quarto do conteúdo total.
Outro dado preocupante é que 21% dos criadores de resgates falsos pediram doações aos espectadores sob o pretexto de ajudar os animais. Chama a atenção também que, dos 605 links reunidos pelo estudo, quase 22% do conteúdo foi sugerido aos pesquisadores pelo algoritmo da plataforma.
“O conteúdo falso de resgate mostra animais em situações de imenso perigo: abandonados nas ruas, enterrados vivos, presos em objetos, sendo atacados por predadores e precisando de atenção médica. Muito pouco se sabe sobre o que acontece com os animais após esses vídeos, em que condições eles são mantidos e como são tratados pelo criador do conteúdo”, alerta Júlia Trevisan, coordenadora de Vida Silvestre na Proteção Animal Mundial.
Alguns criadores colocam os animais uns contra os outros, muitas vezes mostrando interações de “presa e predador”, como aves de rapina ou cobras enormes se enrolando em gatos, cães, cabras e até macacos, tentando matá-los e comê-los. Embora o criador interrompa essa ação como parte do “resgate”, os especialistas avaliam que os animais podem já ter sofrido ferimentos internos graves, bem como sofrimento psicológico e medo.
Além de graves preocupações com o bem-estar, o levantamento mostra que espécies ameaçadas de extinção estavam sendo usadas por criadores de conteúdo, incluindo cinco espécies de primatas.
“Antigamente, era mais fácil identificar os conteúdos falsos, porque a produção era bem amadora e uma narrativa bem fraca. Mas agora esses criadores estão fazendo vídeos mais avançados. É muito importante que as plataformas de mídias sociais consultem especialistas em saúde animal para garantir que as políticas de proteção nas redes sociais sejam efetivas e de fácil implementação pelos times de moderação de conteúdo”, avalia Júlia.
Como identificar falsos resgates nas redes sociais
Os três indicadores de resgate falso que a audiência deve avaliar são: autenticidade do conteúdo, contexto do fato exibido no vídeo e o formato desse material.
Autenticidade
- O “salvador” não integra nenhuma organização animal verdadeira;
- A página ou a conta tem vários vídeos falsos de resgate ou similares;
- Nenhum vídeo de acompanhamento sobre o que aconteceu com os animais é exibido;
- As práticas de resgate são amadoras;
- O "salvador" humano é sempre a mesma pessoa.
Contexto do fato
- É improvável que haja um encontro aleatório capturado por uma câmera;
- Os mesmos animais aparecem em vários vídeos;
Formato do vídeo
- O criador atrasa a assistência ao animal para filmar a situação;
- Edição clara de vídeos em vários ângulos de câmera.