Reunião de Alto Nível da ONU sobre Resistência Antimicrobiana (RAM)
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É urgente a necessidade de políticas que limitem o uso excessivo de antibióticos na pecuária industrial e protejam a saúde pública global.
Pela segunda vez na história, a ONU convocou uma Reunião de alto nível sobre resistência antimicrobiana (RAM), uma das maiores ameaças à saúde global. O encontro ocorreu no dia 26 de setembro em Nova York, durante a 79ª Assembleia Geral da ONU (UNGA), com a presença de líderes mundiais e organizações da sociedade civil. A primeira reunião sobre o tema foi em 2016.
A resistência antimicrobiana ocorre quando bactérias, vírus, fungos e parasitas evoluem para resistir aos medicamentos que antes os matavam, tornando as infecções mais difíceis de tratar.
A pecuária industrial impulsiona a crise de resistência antimicrobiana. As fazendas de produção industrial de animais estão disseminando a resistência a antibióticos no meio ambiente e colocando a saúde das pessoas em risco.
Estima-se que, em 2050, a resistência aos antibióticos será a principal causa de morte humana no mundo, superando câncer, diabetes, doenças do coração e até acidentes de trânsito. É necessário rever urgentemente essa prática.
O uso indiscriminado de antimicrobianos em animais de criação tem ultrapassado em grande medida o consumo na medicina humana, representando entre 60% e 75% do uso global de antibióticos e causando a morte de quase milhão de pessoas todos os anos, revelou nosso relatório "Custo global de saúde pública da resistência antimicrobiana na pecuária industrial intensiva". Precisamos urgente de um compromisso global para mitigar esses danos e de políticas públicas no Brasil que regulem o uso dessas substâncias nas granjas e fazendas, o que permitirá a redução dessa propagação.
Não por acidente, a assembleia geral da ONU aconteceu durante a Climate Week NY (Semana do Clima de Nova York), uma forma dos movimentos climáticos tentarem chamar atenção das Nações Unidas antes da Conferência das Partes. Nós acompanhamos o evento de perto, e temos demandado pelo fim da expansão da pecuária industrial, uma vilã do clima e também da saúde pública.
A coordenadora da Proteção Animal Mundial, Karina Ishida, acompanhou o evento ‘From people to Leaders: ACT on AMR NOW’, onde diferentes organizações se uniram para elevar a discussão da crise global de resistência antimicrobiana junto aos líderes globais da UNGA (United Nation General Assembly).
Karina enfatiza: “Para além de elevar a discussão, precisamos olhar com muita atenção para os sistemas intensivos de produção animal e a ausência de regulamentação no uso desses medicamentos pelo setor globalmente, mas em especial no Brasil”. A Proteção Animal Mundial assinou junto com outros 180 representantes mundo afora a carta ‘Call for a global Action’ liderada pelo React.
O evento teve a presença de lideranças em comunidades na Índia, África, Estados Unidos e Brasil, e destacou desafios e oportunidades para apoiar mudanças em conjunto com as comunidades locais.
Com o avanço da resistência a antibióticos, tratamentos de infecções se tornam caros e às vezes impossíveis, elevando o número de óbitos humanos mundialmente. Em zonas de guerra e de ausência do saneamento básico, pacientes de câncer, pacientes de cirurgias e pacientes com baixa imunidade, como HIV positivo, se tornam cada vez mais expostos a riscos de morte.
A crise de antibióticos deve ser combatida, ou todo o avanço da medicina humana não terá valia para as gerações futuras. O uso abusivo de antibióticos em sistemas de produção animal intensivas e industriais estão causando a morte de pessoas todos os dias.
Práticas que consideram o bem-estar animal são as principais recomendações para redução do uso de antibióticos nas granjas de produção animal. Ao prover qualidade das instalações, redução da densidade do número de animais por m², manejo humanitário e ético, além do tratamento adequado de dejetos, são métodos eficazes para manter o sistema com uso apenas terapêutico dos medicamentos, ou seja, apenas em casos de infecções.
O Governo Federal, por meio do Ministério da Agricultura e Pecuária, deve proibir o uso irresponsável de antibióticos em animais de fazenda e exigir melhores práticas de bem-estar animal criações industriais intensivas.
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