Dia Mundial da Saúde: para salvar o mundo, é preciso acabar com o comércio de animais silvestres
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É impossível negar a conexão entre doenças infecciosas como a COVID-19 e comércio de animais silvestres. A OMS deve estimular os países a agir.
Hoje, 7 de abril, é comemorado o Dia Mundial da Saúde, mas o mundo não está saudável. Deveríamos nos juntar à Organização Mundial da Saúde (OMS) para celebrar os enfermeiros, médicos e demais autoridades da saúde que estão colocando suas vidas em risco para salvar todos da pandemia do novo coronavírus, mas nós fazemos um desserviço aos profissionais de saúde se não resolvermos a raiz do problema.
A maioria de novas doenças infecciosas tem origem em animais silvestres
60% das doenças infecciosas emergentes são zoonóticas e acredita-se que 70% delas provêm de animais silvestres
Acredita-se que o surto de COVID-19 tenha se originado no mercado de animais silvestres na China e transmitido aos seres humanos. Pesquisas indicam que morcegos e pangolins podem estar envolvidos na transmissão do vírus às pessoas, mas foram as ações das pessoas que criaram o ambiente para que essa transmissão acontecesse.
As falta de regulamentação e de espaços não higiênicos associados aos mercados de animais silvestres, onde há contato próximo entre animais e humanos, oferece as condições perfeitas para a propagação de patógenos.
Esse risco ainda é intensificado pelas condições em que os animais são normalmente manejados em todas as etapas da sua terrível jornada até esses mercados. Um grande número de animais de diferentes espécies é mantido em condições de lotação, causando imenso estresse e enfraquecendo seus sistemas imunológicos.
Tudo isso, somado à proximidade dos humanos com os animais nos mercados, cria o ambiente ideal para que os patógenos se repliquem, espalhem-se e, potencialmente, infectem pessoas.
Repetindo os mesmos erros
Essa não é a primeira vez que doenças infecciosas são associadas a animais silvestres nos últimos anos. Entre 2002 e 2003, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), causada por um coronavírus - que acredita-se também ter surgido nos mercados de animais silvestres na China -, afetou mais de 8.000 pessoas em 29 países, resultando em 774 mortes.
O fracasso em impor proibições permanentes em todos os mercados de animais silvestres permitiu o surgimento de uma doença semelhante, mas mais grave. Outras doenças zoonóticas significativas cuja transmissão tem sido associada aos animais silvestres incluem Ebola, MERS, HIV, tuberculoso bovina, raiva e leptospirose.
Alguns dos animais vendidos em mercados são comumente usados como ingredientes na medicina tradicional chinesa. Pangolins, cobras, ursos, tigres e leões são capturados na natureza ou criados em cativeiro para esse fim, o nos mostra a necessidade de uma proibição mais abrangente do comércio de animais silvestres. O risco de transmissão de doenças é predominante em todos os aspectos desse mercado.
As doenças zoonóticas são responsávei por mais de dois bilhões de casos de enfermidades em humanos e mais de dois milhões de mortes de pessoas por ano.
Devemos agir agora para proteger a vida em nosso planeta - seres humanos e animais. Essa pandemia não será a última a menos que mudemos nossos caminhos e acabemos com a exploração de animais.
A OMS deve estimular os governos a agir
Estamos pedindo que a OMS recomende aos governos do mundo todo a proibição permanente dos mercados de animais silvestres e o uso de animais silvestres na medicina tradicional chinesa.
Nós nos unimos à uma coalisão de mais de 200 ONGs, que inclui entidades como a Born Free, Blood Lions, Humane Society Internacional and WildAid, para pedir à OMS que use sua influência para convencer os governos a prevenir futuras pandemias como o COVID-19.
Pedimos fortemente que a OMS:
- Recomende aos governos do mundo todo que instituam uma proibição permanente dos mercados de animais silvestres, estabelecendo um vínculo claro entre esse comércio e suas ameaças comprovadas à saúde humana;
- Recomende aos governos que lidem com os potenciais riscos do comércio de animais silvestres à saúde humana - incluindo a captura na natureza, a vida em cativeiro, o transporte e o comércio físico ou online para qualquer finalidade - e ajam para acabar ou limitar esse mercado, a fim de diminuir esses riscos;
- Exclua definitivamente o uso de animais silvestres, inclusive de espécimes criados em cativeiro, na definição e endosso da medicina tradicional da OMS e revise a Estratégia de Medicina Tradicional 2014-2023 da OMS para refletir essa mudança;
- Ajude os governos e lidere uma resposta coordenada entre a Organização Mundial do Comércio, a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e outras organizações multilaterais em todo o mundo em atividades de conscientização, para informar claramente os riscos do comércio de animais silvestres para a saúde pública, coesão social, estabilidade econômica, lei e ordem e saúde individual;
- Apoie e incentive iniciativas que forneçam fontes alternativas de proteína às pessoas que consomem animais silvestres como forma de subsistência, a fim de reduzir ainda mais o risco para a saúde humana.
Essa ação decisiva está alinhada à função da OMS e é um primeiro passo crítico. precisamos.
Governos ao redor do mundo precisam ser encorajados a adotar uma abordagem preventiva e a fazer sua parte para acabar com o mercado de animais silvestres, prevenindo, assim, futuras pandemias. Não há exemplo mais claro do que a atual crise do COVID-19 para demonstrar que isso é extremamente importante para proteger a saúde e a vida das pessoas.
A crueldade com os animais silvestres torna possível pandemias como o COVID-19. É ainda mais importante que agora os governos, empresas e pessoas se unam para acabar com o uso de animais silvestres como entretenimento, comida, remédios e como animais de estimação exóticos.
Leia a carta completa da coalizão global aqui (em inglês):
Essa pandemia não será a última a menos que acabemos com a exploração dos animais silvestres.