Novo relatório vincula JBS a aquisição de grãos de áreas desmatadas para produção de ração animal
Comunicado de imprensa
Novo relatório vincula JBS a aquisição de grãos de áreas desmatadas para produção de ração animal
São Paulo, 07 de outubro de 2022 – A JBS, maior processadora de carnes do mundo, está comprando grãos, para a produção de ração animal, provenientes de fazendas com áreas desmatadas recentemente na Amazônia e no Cerrado. A história está revelada em uma nova investigação da Repórter Brasil produzida com a apoio da Proteção Animal Mundial, organização não-governamental que trabalha em prol do bem-estar animal.
A investigação revela que os agricultores expandiram o plantio de soja em áreas de desmatamento recente e venderam a soja para fornecedores de grãos da JBS para a produção de ração animal. A prática prejudica milhões de animais silvestres, ameaça alguns dos ecossistemas mais emblemáticos do mundo e contribui para as mudanças climáticas, tudo em nome da alimentação de animais de produção que experimentam sofrimento impensável em sistemas de pecuária industrial intensiva.
O relatório foca no que acontece no centro e norte do estado de Mato Grosso, rastreando a soja dos agricultores aos fornecedores de grãos, como Bunge e Amaggi, e então deles às instalações da JBS destinada à produção de ração animal
Realizado pela Repórter Brasil, premiada organização de jornalismo investigativo sem fins lucrativos, o relatório “Floresta Racionada” reúne evidências – depoimentos de transportadores de carga que fazem parte da cadeia de abastecimento do setor, imagens de satélite e documentação legal pública – que apontam possíveis práticas ilegais em fazendas fornecedoras de soja para a JBS.
As principais descobertas incluem as relativas a uma fazenda (“Fazenda Dona Josefa”) que, mesmo tendo desmatado 98,7 hectares além do permitido, continuou vendendo soja. Documentos fiscais comprovam que as empresas Bunge e Amaggi, ambas fornecedoras da JBS, receberam soja da fazenda em 2019. Além disso, a fazenda seguiu produzindo o grão nos anos de 2020 e 2021. A fazenda está localizada na região do Cerrado, considerada a savana com maior biodiversidade do mundo, mas também a mais impactada pelo desmatamento para o plantio de grãos
Outros achados se referem a uma fazenda na Amazônia (“Fazenda União”) que está enquadrada em parâmetros legais para a produção e venda de soja para fornecedores da JBS. A “Fazenda União”, todavia, é vizinha a uma outra propriedade, do mesmo proprietário, chamada “Fazenda União II”. Esta, mesmo não estando autorizada para a comercialização agrícola, recebeu áreas de plantio de soja conforme detectado por imagens de satélite. Todos os documentos que relacionam o proprietário das duas fazendas à Bunge e à Amaggi indicam a “Fazenda União” como único estabelecimento de origem de toda a soja adquirida.
Segundo o relatório, essa situação levanta suspeitas de um típico caso de “lavagem de grãos” – que é quando um produtor utiliza fazendas legais para mascarar a produção de fazendas embargadas pelo governo por práticas como o desmatamento. O relatório também inclui estudos sobre o milho, outro grão amplamente utilizado na produção de ração animal, mas cuja produção encontra-se ainda ignorada por qualquer tipo de acordo setorial de sustentabilidade. Os produtores de milho que vendem diretamente para a JBS também produziram em fazendas irregulares sem aprovações, incluindo algumas sob impedimento do governo brasileiro.
A JBS afirma que cumpriu todas as regulamentações pertinentes em relação a esses exemplos, porém a pesquisa mostra lacunas significativas em sua responsabilidade de prevenir o desmatamento como um dos maiores atores do mercado de grãos. Com o desmatamento no fornecimento de grãos para ração animal fortemente ligado às mudanças climáticas, isso coloca em dúvida o compromisso de zerar o balanço líquido das emissões de gases do efeito estufa declarado pela JBS
A Proteção Animal Mundial está pedindo, em todo o mundo, que não sejam construídas novas fazendas de criação animal intensiva como forma de combater a causa raiz do desmatamento e de proteger do sofrimento bilhões de animais silvestres e de produção
As indústrias de criação animal intensiva têm a responsabilidade de rastrear a origem da ração animal adquirida, não contribuindo assim para a destruição dos habitats. Elas também devem limitar a criação animal a um número menor de animais de produção vivendo obrigatoriamente em sistemas sustentáveis e de alto nível de bem-estar, com ração de origem local e sustentável.
“Hoje, aproximadamente dois terços da soja produzida no Brasil é destinada para a produção de ração animal, em especial para alimentar aves e suínos. Isso é insustentável. Há um enorme potencial para usar esta terra de forma mais eficiente e sustentável, destinando-a à produção de alimentos para as pessoas. A sustentabilidade, no que diz respeito à produção animal, implica em uma criação menor e melhor”, explica José Ciocca, gerente de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial. “É preciso reduzir o consumo para que seja possível haver um sistema de produção mais sustentável, em que os animais sejam criados com maior bem-estar e alimentados somente com subprodutos dos grãos utilizados preferencialmente para consumo humano”, completa.
Para Jacqueline Mills, chefe de campanha de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial, “É inacreditável que a JBS, a maior processadora de carne do mundo, compre grandes volumes de grãos para ração de animais de criação dos epicentros mundiais da biodiversidade, mas não possa oferecer garantias contra o desmatamento. Esses exemplos incluem locais onde a JBS obteve grãos diretamente do campo – eles não conseguem fazer o básico direito. Se não podemos confiar neles para evitar o desmatamento, como podemos acreditar em seu delírio de zerar o balanço líquido climático?”.
Segundo a publicação Watt Poultry International, a JBS abate 4,4 bilhões de aves por ano. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), durante 45 dias de vida até o abate – ciclo que, em muitos casos, é reduzido para menos de 40 dias – uma ave consome em média 4,8 kg de ração animal.