agropecuária: uma máquina agrícola em uma plantação

Agropecuária: o que é, tipos e cenário atual

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Entenda o que é agropecuária, suas características e importância no cenário econômico nacional.

Quem é brasileiro, ou mora por aqui, tem uma ideia do que é agropecuária. Afinal, o “mundo agro” faz parte fortemente da nossa história, atuando como um dos principais sistemas produtivos e ocasionando diariamente impactos nas nossas vidas por diferentes frentes. 

Como exemplos, ao mesmo tempo que apresenta extrema relevância para a nossa alimentação, pode movimentar o cenário econômico interferir no meio ambiente e na vida dos animais.

Para compreender todo o caminho que a agropecuária percorre e nos atravessa, é importante conhecer o seu conceito,  suas características, seus tipos e entender o seu contexto atual.

O que é agropecuária?

Agropecuária é uma das mais antigas atividades do setor primário da economia e envolve práticas de plantio e cultivo do solo para alimentação humana e animal, incluindo a criação de animais para diversos fins:

  • criação de animais para a produção de ovo, carne, leite, entre outros;
  • cultivo de grãos, como a soja para alimentar animais;
  • plantação de árvores, como eucaliptos.

Estrutura fundiária

A agropecuária é praticada em propriedades rurais com diferentes dimensões territoriais e objetivos comerciais, que podem ser classificadas como:

  • Minifundiário

Propriedade rural com pequena extensão de terra. Costuma ser destinada para a agricultura familiar.

Boa parte dos minifundiários comercializam os seus produtos localmente e o processo produtivo ainda pode ter etapas manuais, nas quais os agricultores “colocam a mão na terra/animais” e são fundamentais para a realização das tarefas.

  • Latifundiário

Propriedade rural com grande extensão de terra. O foco de atuação dos latifundiários está na produção em grande escala e na pecuária de corte.

Costumam utilizar maquinários e tecnologias para otimizar o processo produtivo. Também, são grandes fornecedores de matéria-prima para a indústria e estão entre os principais exportadores do Brasil.

Diferença entre agropecuária e pecuária 

Os dois termos são bem próximos e muitas vezes utilizados equivocadamente como sinônimos. Mas, a agropecuária é destinada para as duas atividades: agricultura e pecuária.

Enquanto a agricultura é direcionada para o cultivo de lavouras e plantações, a pecuária consiste na criação de animais para a produção de carne, leite, lã e outros fins, utilizando o espaço rural para pastagens e instalações. 

Neste cenário, muitos produtores e proprietários agrícolas apostam na agricultura e na pecuária de forma combinada para explorar o espaço agrário e atender as duas demandas, consideradas altíssimas no Brasil. 

Quais são as características da agropecuária?

A agropecuária é uma atividade que apresenta características peculiares e precisa de determinadas condições para ser realizada.

Condições específicas

Entre as características da agropecuária, podemos citar algumas condições essenciais para o processo produtivo no campo, como áreas em propriedades rurais, clima adequado e geografia física favorável. 

Essas condições variam de acordo com o tipo de cultivo ou de animais criados. Como exemplo, as lavouras de arroz se desenvolvem bem no clima mais quente e em solo que retém umidade.

Relação com a alimentação

Tanto a agricultura quanto a pecuária estão diretamente relacionadas com a produção de alimentos para humanos e animais. 

No Brasil, a agricultura se destaca pelo plantio de grãos, como a soja e o milho, e a pecuária pela criação de bovinos, suínos, ovinos e aves para a produção de carne, leite, ovos, lã, entre outros produtos primários, que servem como matéria-prima para a indústria.

Integrante do setor primário da economia

Além da agricultura e da pecuária, outros ramos fazem parte do setor primário da economia, como a pesca e o extrativismo mineral e vegetal. Todos eles têm como premissa o emprego de fontes naturais como matéria-prima. 

Ou seja, são atividades que extraem da natureza o que elas precisam para produzir o seu “produto”. No caso da agropecuária, a terra, as plantações e os animais são tidos como recursos do sistema produtivo.

Abastecimento da indústria

Por muitas vezes, esses “produtos” gerados pela agropecuária servem como matéria-prima para a indústria, classificada como segundo setor da economia. Por isso, a indústria de alimentos é uma das grandes consumidoras da agropecuária. 

Imagine o trajeto que o arroz que você comeu hoje percorreu até ser preparado e fazer parte da sua refeição. Possivelmente, ele foi cultivado em lavouras de uma propriedade agrícola, colhido e enviado para a indústria beneficiar e distribuir o cereal nas gôndolas dos supermercados. 

Seguindo o exemplo, dependendo do tipo de agropecuária, esse trajeto pode ter impactos significativos. Algumas práticas muito comuns da agropecuária apresentam possíveis consequências que vão além do que você vê no seu prato. 

O uso de agrotóxicos nas plantações está associado a prejuízos para a saúde humana e para o ecossistema ao seu redor, assim como o desmatamento de áreas para ampliar a produção interfere na vida de animais silvestres e nativos, e no meio ambiente.

Quais são os tipos de agropecuária?

Os tipos de agropecuária se diferenciam pelo processo produtivo,  tecnologia, mão de obra disponível, mercado que atendem e efeitos que podem ocasionar. 

Agropecuária extensiva ou tradicional

A agropecuária extensiva utiliza práticas tradicionais para plantar e criar os animais, e é caracterizada por não aplicar novas tecnologias no processo produtivo, priorizando ferramentas simples na lida diária da lavoura e da pecuária.  

As áreas agrícolas da agropecuária extensiva são amplas para compensar a produtividade desacelerada e para a criação de animais soltos no campo. Geralmente, é o tipo de agropecuária utilizada em propriedades rurais com menor volume, porém, diversificada produção, sendo aplicada a policultura em muitos casos.

Outra característica da agropecuária extensiva é a distribuição do que ela produz, atendendo o consumo do mercado interno, mais local ou regional. Também, conta com a mão de obra familiar como principal força de trabalho.

Agropecuária intensiva ou moderna

Na contramão do modelo apresentado anteriormente, a agropecuária intensiva se caracteriza por utilizar soluções tecnológicas no campo para intensificar a produção. 

Maquinário, grande quantidade de insumos, monocultura, alta exploração do solo e a criação de animais em confinamento costumam fazer parte desse tipo de agropecuária. Já a força de trabalho fica na mão de um número reduzido de profissionais com conhecimento técnico mais acentuado.

A produção da agropecuária intensiva no Brasil tem um grande foco na exportação. O interesse em produzir em larga escala e aproveitar ao máximo a terra tem o objetivo de atender uma demanda gigantesca e internacional. 

Ainda hoje, alguns produtores da agropecuária intensiva desmatam áreas imensas para dar espaço para o plantio e para a criação dos animais, impactando diretamente na flora, na fauna e no equilíbrio ambiental.

Agropecuária no Brasil

Como citamos na abertura do artigo, o brasileiro tem uma íntima relação com a agropecuária. Está na nossa história a exploração de recursos naturais para produção de alimentos e matérias-primas. 

Se formos pensar numa linha do tempo, passamos por práticas agrícolas que ditaram o cenário econômico, como a exploração do Pau-Brasil, o cultivo da cana-de-açúcar, a mineração, o plantio de algodão, a ascensão do café, a produção do leite e a extração da borracha. 

Atualmente, o Brasil é o maior produtor de soja do mundo desde a safra de 2019/2020, sendo também o maior exportador mundial da oleaginosa, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 2023.

agropecuária: imagem de um gráfico de produção de soja indicando o Brasil.

Fonte: USDA, 2023

No ranking, liderado pelo Brasil, estão Estados Unidos, Argentina, China, Índia e Paraguai. Esses são os seis maiores produtores de soja do mundo, responsáveis conjuntamente por 90% da soja mundial. 

Um fato curioso é que só os três primeiros colocados do ranking já correspondem a 80% da produção de soja mundial. Além disso, nota-se que o ranking mundial de produção de soja é formado por países que também são líderes em exportação agropecuária - por conta da larga utilização da soja na composição da ração animal.

agropecuária: tabela de produção de soja mundial 2023

Fonte: USDA, 2023

 A questão da soja no Brasil 

O Brasil produziu mais de 150 milhões de toneladas de soja em 2022/2023, ocupando a posição de maior produtor de soja do mundo, e isso tem um peso enorme para o Produto Interno Bruto (PIB) do país.  

Portanto, não podemos negar que a produção de soja no Brasil - que começou a ser cultivado para fins comerciais na década de 40 - ocupa uma posição relevante na economia. Contudo, há problemáticas que cercam o assunto:

  • A maior parte da soja produzida no Brasil é exportada, fato que cria uma dependência do mercado internacional, estabelecendo e dando força para a produção do grão no país. Ainda, a soja produzida por aqui é destinada em grandes quantidades para a fabricação de ração animal, uma questão que confronta com a desigualdade alimentar do Brasil.
  • Em uma pesquisa feita por economistas da Fundação de Economia e Estatística (FEE), foi identificada a relação do aumento do plantio de soja com o aumento de conflitos no campo (principalmente diante de terras da agricultura familiar e indígenas), o desmatamento e a interferência negativa na biodiversidade.
  •  O incentivo à monocultura ao fomentar a produção de um único alimento, prática que prejudica o solo, empobrece o perfil nutricional da terra e carece de mais insumos para o desenvolvimento das plantações.

Agropecuária no mundo 

A atividade agropecuária desempenha um papel fundamental na economia global, ela emprega aproximadamente 27% da força de trabalho global, o que equivale a 870 milhões de pessoas, conforme dados das Nações Unidas. Ainda segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o setor agropecuário gerou receitas globais de 3,9 trilhões de dólares.

Em países menos industrializados, como Libéria, Somália e Guiné-Bissau, onde a agropecuária é o setor predominante, ela é frequentemente realizada de maneira tradicional.

Já em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e a China, a agropecuária é mais moderna e mecanizada, com grandes agroindústrias sediadas em seus territórios. Essas nações geralmente possuem alto índice de desenvolvimento e desempenham um papel central na economia global.

Entre os países mencionados acima, a China ganha destaque como o maior produtor de carne suína do mundo.

Agropecuária e o meio ambiente

agropecuária: imagem de uma floresta em chamas

Para entender melhor como a agropecuária atravessa o meio ambiente, nos deparamos com uma complexa contradição entre a atividade e os recursos que ela precisa.

Perceba que, por mais que a atividade agrária necessite de recursos da natureza para o seu processo produtivo (como a terra fértil e o clima favorável), a prática em grande escala e intensiva prejudica as fontes naturais e ocasiona danos no meio ambiente.

O clima, o solo e os animais (de fazendas e os silvestres) sentem os efeitos da atividade agrária que olha apenas para o aumento da produção e desconsidera a biodiversidade na qual está inserida.

Mudanças climáticas

Outro exemplo das contradições que a pauta apresenta está nas mudanças climáticas. Enquanto os grandes produtores se preocupam em preparar seus estabelecimentos para as alterações do clima previstas, esquecem que as atividades da agropecuária podem intensificar essas mudanças e contribuírem significativamente com as mudanças climáticas. 

As mudanças de uso da terra respondem por 49% das emissões brutas de gases de efeito estufa do país em 2021, contra 46% em 2020. Em seguida vêm agropecuária, com 25%, energia e processos industriais, com 22%, e resíduos, com 4% - dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).

Degradação e empobrecimento do solo

Naturalmente, o solo pode sofrer mudanças, como erosões, diante de ações climáticas intensas, como chuva e vento. Porém, as atividades da agropecuária podem incentivar a degradação do espaço rural e da perda nutricional da terra por diferentes fatores:

  • Remoção da proteção natural do solo ao retirar as vegetações nativas para dar lugar às pastagens e às lavouras.
  • Esgotamento da terra promovida pela monocultura e pelo uso de produtos químicos e tóxicos.
  • Compactação do solo ocasionado pelo caminhar dos animais e pelo trânsito de máquinas agrícolas, condição que reduz a permeabilidade da terra e prejudica a sua capacidade de produção.
  • Desertificação promovida pelo uso excessivo do solo e por práticas utilizadas para ampliar as áreas de cultivo e de criação de animais, como o desmatamento e as queimadas.

Contaminação da água

Uma publicação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) destacou que a agropecuária é o setor que mais descarta contaminantes na água, ao mesmo tempo em que é o que mais consome fontes hídricas, chegando a 70% do consumo total mundial.

Entre os contaminantes, estão os conhecidos pesticidas e outros compostos químicos; potássio e nitrato; e substâncias que passaram a ganhar destaques nas discussões mais recentes, como os antibióticos utilizados na criação dos animais.

Vale lembrar de todo o ecossistema para entender a problemática. A contaminação da água pode ocasionar danos para a saúde humana, promover doenças, assim como prejudicar a fauna e a flora que também utilizam ou entram em contato com o recurso hídrico contaminado. 

Desmatamento

Como citamos anteriormente, o desmatamento é utilizado por produtores agrícolas para retirar a vegetação nativa, expandir as áreas de produção e ter mais espaço rural para o plantio ou criação de animais. 

Essa prática resultou em um dado alarmante sobre o setor. Segundo o Mapbiomas, 90% da perda de vegetação do Brasil foi atribuída às atividades agropecuárias. A informação considerou dados referentes aos anos 1985-2019.

Entre os principais efeitos, o desmatamento impacta fortemente a biodiversidade, ocasionando a mortalidade e até a extinção de animais silvestres, além da degradação e empobrecimento do solo.

Como tornar a agropecuária mais sustentável? 

Por mais que o setor tenha a sua importância na economia, é essencial colocar atenção nos impactos negativos do processo produtivo da agropecuária e encontrar alternativas para amenizar os danos e tornar a atividade mais sustentável. 

Por isso, selecionamos 7 práticas que podem ser aplicadas no campo, ou observadas pelos consumidores mais atentos em alimentos seguros, preservação do meio ambiente e proteção dos animais.

  1. Apostar na policultura, trazendo diversidade para o plantio, evitando assim, o esgotamento do solo.
  2. Incentivar a agricultura familiar e outros modelos de produção que geram impactos negativos reduzidos ao meio ambiente.
  3. Preferir técnicas extensivas, as quais favorecem o bem-estar do animal ao ser criado solto no espaço rural e a capacidade de produção do solo.
  4. Recuperar pastagens e tratar corretamente os dejetos dos animais.
  5. Investir em defensivos naturais que não contaminam os alimentos, o solo ou as fontes hídricas.
  6. Comprar carne somente de empresas que não utilizam antibióticos de forma preventiva ou para promover o crescimento dos animais.
  7. Ter a consciência que o campo faz parte de um ecossistema que engloba outras áreas, como as florestas. Práticas que integram esses biomas ajudam a agropecuária a ser sustentável, como o sistema agroflorestal.

Como o consumidor pode contribuir?

agropecuária: imagem de uma floresta desmatada

Além dessas práticas que ajudam a agropecuária a ser mais sustentável, a população também tem a sua participação e pode contribuir exercendo um consumo mais consciente, como a diminuição da proteína animal nas refeições. 

E participar ativamente exigindo processos produtivos mais limpos por parte das indústrias. Uma das formas é pressionar os grandes do setor para que eles não financiem técnicas que prejudicam o meio ambiente e os animais.

Exija que a JBS pare de financiar o desmatamento

Entre as grandes indústrias que podemos colocar atenção, está a JBS, empresa que foi vinculada à aquisição de grãos de áreas desmatadas para produção de ração animal. 

Algumas iniciativas estão sendo propostas para pressionar a JBS para que ela limpe a sua cadeia de fornecedores e pare de financiar o desmatamento, responsável pela morte e pelo sofrimento de milhões de animais.

Neste sentido, criamos uma petição para exigir que a JBS elimine completamente o desmatamento da sua cadeia de fornecimento direto e indireto, crie um plano ambicioso para zerar suas emissões de gazes e priorize alimentos à base de plantas com foco no bem estar-animal.

Assine a petição!

Assinatura recebida. Obrigada!

Ao enviar este formulário, concordo em receber mais comunicações da Proteção Animal Mundial e entendo que posso desistir a qualquer momento. Para obter informações sobre como usamos seus dados e como os mantemos seguros, leia nossa política de privacidade.

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Referências

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/agricultura-e-meio-ambiente/qualidade/dinamica/agrotoxicos-no-brasil. Acesso em: 08 de fevereiro de 2024.

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Disponível em: https://www.conab.gov.br/. Acesso em: 08 de fevereiro de 2024.

Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Disponível em: https://www.fao.org/brasil/pt/. Acesso em: 08 de fevereiro de 2024.

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Disponível em: https://www.usda.gov/. Acesso em: 08 de fevereiro de 2024.

Mapbiomas. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/. Acesso em: 08 de fevereiro de 2024.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/21814-2017-censo-agropecuario.html?=&t=o-que-e. Acesso em: 08 de fevereiro de 2024.

Fundação de Economia e Estatística (FEE). Disponível em: https://arquivofee.rs.gov.br/. Acesso em: 08 de fevereiro de 2024.

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