Tragédia reacende debate: o transporte de animais vivos é necessário?

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Tragédia reacende debate: o transporte de animais vivos é necessário?

Na passada terça-feira, 6 de outubro, um navio de bandeira libanesa que carregava 5 mil bois vivos afundou no cais do porto de Vila do Conde, em Barcarena, nordeste do Pará. O gado era da multinacional Minerva, de Barretos (SP), e a carga viva, de acordo com a Companhia Docas do Pará, teria como destino a Venezuela. As causas do acidente ainda estão sendo apuradas e, apesar da maioria dos bois ter morrido, não há informação sobre vítimas humanas.

Em 2002, iniciou-se a exportação fluvial de animais vivos com o objetivo de abate ou reprodução para outros paises. Desde esta época vem se debatendo sobre o transporte de animais vivos, levantando vários questionamentos como: tempo de jornada, condições de transporte e alimentação nos veículos, problemas sanitários, bem-estar dos animais, dentre outros.

Cerca de 95% das exportações de animais vivos são realizadas pelo estado do Pará, sendo o Brasil o 4º maior exportador do mundo, atrás apenas de Canadá, México e Austrália. Quando pensamos no montante total de animais abatidos por ano, as exportações de bovinos vivos representam cerca de 2% do total.  Ao longo destes treze anos, várias medidas foram tomadas pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento no intuito de regulamentar as condições sanitárias e de bem-estar destes animais, como a Instrução Normativa nº13 de 30/03/2010, que visa regulamentar o transporte de animais vivos por meio fluvial.

Apesar de haver vários relatos sobre as melhorias das condições de transporte, uma pergunta deve ser feita. É necessário transportar animais vivos por longos períodos para serem abatidos em outros paises?

A resposta é não. Não há motivo para enfrentarem dias de viagem, cerca de 3 semanas no caso de paises do Oriente Médio, para serem abatidos em seu destino. O mais importante é que, do momento que estes bovinos entram no navio, eles não são mais brasileiros e estão sobre responsabilidade dos países que os importam. Desta forma, estes animais não estão sob jurisdição brasileira e, portanto, nossas leis de proteção aos animais não são mais aplicáveis.

Na história pregressa, observamos dezenas de naufrágios envolvendo navios, iguais ao caso de ontem no Pará. E por mais que se tente melhorar as condições de alojamento, adaptação à alimentação ou transporte, é ético colocar os animais em uma situação de risco apenas para impor exigências de abate ou aumentar a lucratividade? Afinal, acidentes podem ocorrer, seja por descuido ou por uma fatalidade.

Além disso, os ribeirinhos que ajudaram no resgate destes animais relataram que não havia pessoas suficientes e preparadas, nem as condições mínimas necessárias para socorrer os animais. Mais uma vez ressaltamos, se há possibilidade de um acidente ocorrer envolvendo animais vivos, é preciso ter preparado um plano de emergência para o socorro. E aparentemente, neste caso, não havia preparo para isso.

Há  outras formas de comércio que podem ser aplicadas aos países que querem importar nossos animais. No caso de reprodutores, podemos exportar sêmen, óvulos, embriões; ou no caso de animais para abate, podemos comercializar a carne. Mas temos a obrigação, como sociedade, de repensar se é ético transportar animais vivos e submetê-los a condições adversas ou possíveis acidentes desnecessariamente.

Assista ao nosso vídeo sobre transporte de bovinos vivos para o abate, realizado em 2010 junto com outras ONGs.